MÃES ÀS AVESSAS.
Hoje eu me acordei pensando nas mães às avessas. Naquelas que criaram os filhos como “Deus criou batatas”; naquelas que nunca pensaram em serem mães e o foram porque o prazer da carne as levou a isto. Pensei, inconscientemente, naquelas outras que quiseram dar aos filhos, equivocadamente, tudo que não tiveram quando foram crianças – essas, na maioria das vezes esqueceram-se de praticar limites com seus filhos; preferiram dizer-lhes sim, quando seria não e vice versa. Praticaram na maior da boa intenção a lógica complexa que tantas mães exortam: “uma mãe é pra cem filhos, mas cem filhos não são para uma mãe”. Talvez com isto tenham conseguido entregar seus filhos à bandidagem, ao mal caratismo, à falta de respeito aos mais velhos, às práticas preconceituosas, à falta de estrutura psicológica para se relacionar com as pessoas de forma digna. Imagino que quando uma mãe se diz que é pra cem filhos, certamente esteja se sentido (há muitas exceções) a rainha não só do lar, mas da “cocada preta”. Se uma mãe é austera com os filhos na hora certa. Dá limites. Puxa as “orelhas”, diz “não ou sim” se for preciso, não os trata como igual (é um equívoco tratar os filhos como se um deles fosse), dá-lhes o exemplo em atitudes, etc., não tenhamos dúvidas que ela SERÁ PRA MIL FILHOS, não pra CEM.
Mas eu me acordei pensando hoje – dia oficial das mães, naquelas mães às avessas, conforme já me referi. Àquelas que pelos diversos motivos “presentearam” a sociedade colocando no mundo esse bando de foras da lei que tomam conta da nação praticando os mais variados tipos de delitos, especialmente o latrocínio. Hoje, enquanto essas mães nem se dão conta dos filhos que estão na cadeia, ou soltos matando pais de famílias e trabalhadores, estuprando e seqüestrando pessoas dignas, as mães das vitimas devem estar rezando ajoelhadas no altar das consciências. Talvez buscando um consolo na oração como única alternativa de alento, pois a nossa justiça é alheia aos cidadãos e os nossos parlamentares só se preocupam com as negociatas deles, posto que o investimento de campanha tem que ser “ressarcido”.
“Neste dia, oh Maria, nós te damos nosso amor” – Hino católico muito significativo para cantarmos neste dia. Dia das mães é como se fosse dia do amor, pois não bastando ser mulher, quis o Senhor dar a grande maioria delas a ventura de dar à luz crianças, pessoas, para povoar o mundo. Em sendo o dia do amor, as mães às avessas como se sentem? A idéia geral é que devem ser culpadas por terem colocado, irresponsavelmente, filhos no mundo. Mas deve haver muitas delas que até fizeram as suas partes e, mesmo assim, estão com filhos presos ou soltos praticando violência. Neste caso, a índole má, a herança genética nos leva a fazer ponderações.
Fico pensando como esses filhos devem se comportar no dia de hoje, especialmente aqueles que estão encarcerados. Mas fico mais preocupado com os filhos que eles tiraram dos pais, com os pais que eles tiraram dos filhos ou com aqueles mutilados que estão mortos em vida. Nesse viés, a gente não pode se descuidar de registrar a parte mal feita dos poderes públicos. Esses têm grande parcela de culpa que bem poderemos dividi-la com as mães às avessas. Se o Estado fosse forte em educação, em escola, em creches, em políticas de emprego e renda, certamente muitos filhos de Mães às avessas não estariam na cadeia.
Portanto, neste dia tão especial de amor, resta-me o solfejo do hino de Nossa Senhora: “neste dia, oh Maria, nós te damos nosso amor”... Aos “FILHOS DA MÃE”, que a justiça se faça e que um dia a gente possa dormir e acordar em paz e voltar a ter sonhos e se iludir com o futuro e com a vida eterna, enquanto durar...