MÃES

 
Eu sou mãe.

 Mas quando jovem não era e não sabia o que era exceto que eu tinha uma mãe, a minha mãe. Ela era sem se mostrar. Fazia a vida acontecer dentro de casa. Tinha mão de ferro, mas nunca bateu. Suas mãos faziam o melhor “capitão” enfiado na boca gulosa dos filhos. Na cozinha, o melhor doce de leite engrossando em tacho grande, de segredos de não mexer para não perder o ponto, num encanto.

Em dias de pobreza, nada de tristeza, vinha pra mesa o angu doce com erva doce cheiroso e saindo fumacinha.

Sem dias amorfos ou tediosos. Nossa casa era sempre limpinha, clara, cortinas brancas esvoaçando, flores nas jarras, crianças correndo e frutas no pé.

Muita fartura, se goiabas, goiabadas também o dia inteiro no tachão de cobre no fogão de lenha e alguém mexendo uniformemente aquela massa cheirosa até o ponto, e todo mundo ia pegar o seu copo de leite e acrescentava colherada de goiabada cascão, e uma pausa de delícia saboreando o copão.

Tudo era traço de união. Na chapa do fogão dois bules, um maior do meu pai, com café forte e sempre quente que ele gostava de tomar cafezinho a todo o momento e a voz dela “este é do seu pai”. Noutro, menor, o café fraco já adoçado para o resto da família tomar a qualquer hora.

As crianças iam colher os ovos de galinhas Legorn no porão da casa. Quentinhos, catados nos ninhos e vínhamos mostrar para a mãe. Ou iam cuidar de alimentar as lagartinhas do bicho da seda.

Nas tardes, vez em quando, era um afã na cozinha na hora do “ponto da bala de coco”, uma bala caseira que engrossava a massa e irmãs e mãe untavam as mãos de manteiga e esticavam aquela massa branca, que de mole ia engrossando, engrossando perigosamente até o ponto X de fazer as balas de coco. Balas que derretiam na boca.

Ou outros dias, em que o cheiro era do pé de moleque, feito de amendoim torrado e moído junto com rapadura. Também tinha o perigoso momento de “dar ponto” em que a massa na panela ia perder o brilho, e era hora de estirar sobre a pedra mármore, e depois cortar em pequenos losangos.

As mães são o elo entre Deus e o homem.

Um dia eu virei mulher e tive uma gravidez tubária logo no primeiro mês. Conheci o hospital e a frustração de não ter filhos. Ficaram o útero e o coração atingidos por mão divina. Mas Deus, em sua infinita misericórdia me deu uma filha, afinal.

Então entendi a humanidade. Os horizontes se alargaram e compreendi. O filho é a porta aberta para a mulher compreender a humanidade. Ela não é mãe só de seus filhos. É mãe de todos os homens e da terra. Ela é o elo entre Deus e o ser humano.

Passados cinco anos preparei meu corpo para receber o próximo filho em condições perfeitas: nasceu a segunda filha. A perfeição.

 E três anos depois nasceu o filho, um milagre de Deus.

Neste domingo comemoramos “O Dia das Mães”. Felicidades e amor a todas as mães e filhos.