Macapá

11 de Março de 2005

Eis a cidade de Macapá. Não metrópole, não tão interiorana. Um exemplo de meio-termo. Quando ando por esse lugar, sempre tenho a impressão de deparar-me a qualquer momento com um conhecido. Seja de trabalho, seja de infância. Apesar de ser o maior aglomerado humano do Estado do Amapá, acaba por não ter prédios, amaldiçoada por uma lenda de que seu terreno frouxo não os permitisse, pedra longe de alcance. Melhor assim. Para uma cidade naturalmente tórrida, a liberdade do vento, espalhado pelas ruas e avenidas, aplaca a fúria do Equador.

Horizontal e provincial, esta capital já tem o posto de ser um dos grandes centros amazônicos. Mas será mesmo que existe tal pretensão? Formada de pessoas vindas do interior do estado, de casebres com vastos quintais, em lado de igarapés, de mangueiras frutificadas abraçadas nos pés pelo solo e não por um cimento frio, de compra de açaí em final de tarde, tudo me dá a impressão de uma simpática moleza para ser moderna.

Outro dia, no centro da cidade, quando da espera minha pelo ônibus que levaria até o porto de Santana, fui surpreendido pela terça-feira de carnaval e pela igualdade dos macapaenses na procissão profana de seguir aquela chamada simplesmente de A Banda. Comparemos com Belém, verdadeiro formigueiro de gente: blocos de folia onde se percebe facilmente os abastados dos humildes, metidos versus simplórios, em todos os cantos daquele urbano. Em Macapá, percebi diferente. Todos seguiam aquela trupe de velhos músicos em seus trompetes e outros sopros pela orla ventilada. Democraticamente vestidos, de indumentárias singelas, sem grandes ostentações de riqueza, os foliões marchavam em sua alegria de Baco como se quisessem fazer uma passeata a favor da igualdade, com os olhos ainda banhados por um sangue ribeirinho de fato.

Quanto de nossa essência se perderá, Belém? Tomemos o exemplo de Macapá, procuremo-la, sempre.