Rotina policial
Rotina policial
- Ei quem é que tá pedindo aqui perto de mim?
- Sou eu ceguinho, o João cotó.
- É melhor você sair daqui, que o espaço é muito pequeno para dois!
- Não saio, nem ninguém me tira!!
- Ah! é assim né? pois se eu escutar um barulho de moeda sequer, caindo nesta lata eu lhe dou uma bengalada na orelha!
- Experimente seu chapéu de ataiá égua! na mesma velocidade da bengalada, vai voltar uma calhaozada no meio da testa.
- Epa!! que anarquia é esta aqui?!
- É este cego seu guarda, achando que é o dono da rua, dizendo que eu não posso pedir esmola aqui!
- E quem disse que isto é lugar de pedir esmola?
- Foi o Deputado seu guarda, pediu meu voto para conseguir minha aposentadoria como demorou muito, ele me mandou pedir esmola.
- Então eu posso ficar aqui pois eu também votei nele!
- Cala a boca cotó, se não lhe meto a bengala!
- Seu guarda este cego está me ameaçando!!
- É melhor os dois pararem com o barraco, ou então mando os dois para o xilindró!
O Policial todo habilidoso para resolver as questões de conflito popular, olha para todos os lados levanta o polegar em sinal de jóia para a camera Olho vivo, e assovia calmamente. Primeiro chama o cego e fala com sorriso nos olhos.
- Faça o seguinte, me dê aí umas moedas que eu vou fingir que não vi nada, pode ser?
- Tá aqui seu guarda, metade do que ganhei hoje, toma também esta garrafa de pinga que alguém que acha que todo pobre é pinguço deu para mim. E esta outra parte é para o senhor livrar-me deste individuo que quer tomar meus colaboradores.
- Muito bem ceguinho! assim que se faz.
O guarda após receber o donativo do deficiente visual, recosta ao lado do cadeirante e pede o dobro para deixá-lo no local e expulsar o outro.
- Seu guarda, dinheiro eu não tenho mas posso lhe contar o que passou ontem no Jornal Nacional!
- Tá ficando louco aleijadinho, por acaso sou algum otário porra!! cê tem dois minutos pra sumir com esta cadeira fedorenta daqui e vá pedir esmola lá na p.q.p, se não lhe encho o bolso de maconha e o prendo como traficante!!
- Tá bom seu guarda, Deus me livre de cadeia, eu já estou indo para a p.q.p, mas eu só queria dizer para o senhor que ontem no Jornal Nacional, mostrou o senhor pedindo dinheiro aos vendedores de picolé para deixá-los vender na praça. Sorria você estará novamente no Jornal.
Adilson Cardoso