TRÊS VIDAS
Dentro da mesma semana, três bebês recém nascidos foram encontrados em situações inumanas. Naturalmente, os olhos da consternação social começam a realizar uma verdadeira caçaria de bruxas para prender, condenar e massacrar essas mulheres que deixam inocentes criaturas nas latas do lixo.
Todos nós temos nossa quota de responsabilidade social para com esses bebês abandonados. E você estará perguntando-me: onde eu participo nessa macabra história?
Primeiramente, convido-lhe a que conheça outras arestas desse problema social, e para isso, temos que colocar uma lente de aumento encima dessas mulheres. Quem são elas?
O perfil psico-social das mulheres que comentem essas atrocidades é facilmente identificável: são consumidoras de drogas, mulheres de rua sem vínculos familiares, mulheres violadas, crianças e adolescentes violadas (estatisticamente sempre é alguém do entorno familiar, pai, padrasto, tios e avós), mulheres portadoras de doenças psiquiátricas não tratadas, etc.
Esse tipo de mulher, sem uma intervenção psicológica e uma rede de apoio social, é uma criminosa em potencial. Psicologicamente são mulheres altamente vulneráveis. Dentro de seu contexto emocional, o que elas carregam no ventre não é uma criança, mas um objeto que lhes estorva a vida. E objetos podem ser jogados na lata do lixo. Procurar respostas no instinto maternal, nesses casos, é uma grande equivocação ou mais bem uma ingenuidade. Trata-se de pessoas que não podem ser avaliadas por nossa tabela de conceitos morais e éticos.
Mas imaginemos essa mesma mulher em outra situação. Pense que ela não estará realizando um ato de violência, mas sim, decidindo de forma voluntária e com discernimento entregar este filho em adoção. Independente de quais sejam suas razões, o que ocorre comumente? Uma parte importante da sociedade a crucifica, utilizando a típica frase discriminatória e comparativa: “nem as cachorras abandonam suas crias”.
Se nos trasladamos ao contexto hospitalar, há muitos casos em que a própria equipe médica, ao se interar previamente que esta mulher que está em trabalho de parto tem a intenção de entregá-la em adoção, coloca-a em situação vexatória, humilhante e degradante. Ou seja, profissionais que juraram proteger a vida, se esquecem que essa senhora não está numa cama clandestina para realizar-se um aborto. Ao contrário, essa senhora OPTOU PELA VIDA E DARÁ A ESSE FILHO A OPORTUNIDADE DE TER UMA FAMILIA.
As mulheres e as jovens de risco social que estão vivendo essa situação de gravidez indesejada têm atitudes similares umas com as outras. Primeiro mentem para o entorno social: as poucas pessoas que fazem parte de seu convívio diário sequer sabem dessa gravidez. Estando dentro de um Hospital, ao não encontrarem profissionais que possam compreendê-la que sua opção será sair dali sem um bebê nos braços, preferem mentir quanto seu estado de pré-parto e em muitos casos se escondem nos banheiros nesse momento.
Nas situações mais extremas, essas mulheres fogem e se escondem numa esquina qualquer para trazerem essas criaturas ao mundo. Lamentavelmente, na hora do parto, essas crianças indefesas recebem o todo o impacto da raiva e da ira dessas mulheres que não as desejavam.
Mas há solução para casos extremos como estes? Existirão políticas públicas que possam antecipar-se, prever e evitar situações tão inumanas como estas?
Ao meu parecer, a reposta é SIM. Podemos fazer muito por essas crianças.
Eu não defendo que como cidadãos devemos simplesmente perdoar mulheres assassinas de bebês, restando-lhes responsabilidades e culpando somente o sistema social. O que defendo é a vida da criança. Temos que ter consciência de um fato: esse bebê está dentro de um ventre e, portanto, não podemos prestar uma ajuda social de forma separada e individualizada a essa criança. Sendo nosso desejo protegê-la e garantir uma maior possibilidade de que nasça em condições dignas, temos que acolher e oferecer ajuda a essa mulher que o carrega.
Quanto às mulheres em risco social, que estão passando por uma gravidez indesejada, o que elas necessitam é de serem acolhidas por uma Instituição que lhes ofereça alternativas. A primeira seria oferecer-lhe possibilidades de reinserção social para que assumam essa futura maternidade. A segunda, nos casos onde não haja alternativas saudáveis de vínculo materno para com esse bebê, ferramentas psicológicas e jurídicas dando-lhes a oportunidade legal de entregarem as crianças para a adoção.
Temos duas soluções: sentar no sofá e ver o final de um filme de terror, onde um bebe morre dentro de uma lata de lixo e uma mulher vai presa: só que pro resto da vida eu terei que pagar-lhe com meus impostos pelo seu prato de comida.
O segundo final para este mesmo filme, seria que houvesse uma intervenção psico-social oportuna, preventiva, antes do parto, para que se pudesse evitar que ocorressem essas tragédias.
No momento que no Brasil haja Instituições (ou mais bem departamentos dentro da Vara da Infância e da Juventude) desempenhando-se especificamente para atender e acolher mulheres grávidas, cujos bebês demonstrem estar em situação de vulnerabilidade, haverá menores possibilidades que tenhamos que digerir essas notícias no momento que ligamos nossos televisores na hora do jantar.