A leitora

Ela debruça sobre crônicas. Lê. Em sua testa assomam ruguinhas finas, imperceptíveis a um observador desatento. Eu estou atento.

Suas ideias se agitam com a leitura. Imaginam, supõem, flutuam. Seus olhos são lindos quando leem. Ela debruça sobre crônicas.

A mão direita segura a página. A esquerda, delicadíssima, batuca a mesa com os dedinhos uma música que não existe. E enquanto as notas misteriosas soam, os lábios esboçam um discreto sorriso com a graça escrita por algum cronista. Seus olhos são lindos quando leem.

Eu, aqui de longe, queria mergulhar no pensamento dela. Pensamento de leitora. Decorar suas reações, escrever o que ela deseja ler. Ela debruça sobre crônicas. Seus olhos são lindos quando leem. Eu leio todos os seus gestos de leitora.

A leitora é minha crônica. É a minha maior inspiração. Repousa sobre a minha cabeceira, domina a minha estante. E eu nunca consigo descansar. Olhos vidrados, respiração profunda, desejo ardentemente sonhar com o que pensa esta leitora de olhos lindos quando leem.