E VOU DEIXAR MINHAS PLANTAS MORREREM?



Ela aguava as plantas como quem matava a própria sede. Havia carregado cuidadosamente a grande jarra de alumínio cheinha de água e devagar como lhe permitia as cansadas e doloridas pernas firmava a jarra com uma mão e um caneca plástica na outra. Aproximara-se da janela e erguendo o forte tronco já contando uns mais de 75 anos bem sofridos e começou a encher a caneca e a distribuir o precioso liquido entre as plantas, uma por uma dizendo que assim não colocava água demais em nenhuma.
- Mas a senhora não devia carregar essa jarrona de água, mãe, muito peso para a senhora.
- E vou deixar minhas plantas morrerem?
Nada retruquei. Possuía anos de conhecimento sobre as metamorfoses daquela cabeça e sabia quando ela não cedia um milímetro e também quando poderia até se movimentar diante alguma indecisão, que no caso das plantas, seria nenhuma. Não demorou ela voltou ao assunto da viagem para USA, divagando se deveria ou não ir ou se não seria só um peso para os outros arrastarem dificultando agilidade ou maiores alegrias.
- Eu acho que a senhora deve ir mãe, pois a tendência é a senhora piorar com o tempo, então melhor ir enquanto a senhora ainda agüenta ficar um pouco em pé e andar um pouquinho.
Vejo então que ela me olha como se eu já a tivesse colocado com um pé na cova e me lembrei de Ana Toledo e sua crônica sobre os longes da cova. Ri. Ela disse assim: Tá rindo de mim?
- Não mãe. Estou rindo das tolas passagens da vida e acho que a senhora deve aproveitar bem todas as partes que podem ser as melhores por vir.





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Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 23/04/2011
Reeditado em 24/04/2011
Código do texto: T2926811
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