DE OLHO NA VIDA

Outro dia uma pessoa chegou dizendo-se numa encruzilhada e contou os motivos para tal; outra falou que andava meio quieta, pensativa e até deprimida e contou alguns fatos que a estavam preocupando e deixando-a neste estado. Em ambos os casos eu diria que a impressão foi positiva para o processo analítico, diga-se de passagem, que ambas as pessoas estão em análise há um tempo considerável, e por causa disto é exatamente o que podemos almejar da evolução deste trabalho. Estamos referindo que não existe crescimento sem tomada de consciência, sem escolhas e nem frustrações consequentes. Estas pessoas estão numa fase onde a “verdade” estar por vir, onde escolher continuar no jeito antigo, no jeito de como olhava e conduzia a própria vida, das coisas e pessoas a sua volta pode não caber mais neste momento crucial. A verdade é subjetiva e singular nestes casos e, uma encruzilhada ou um olhar diferenciado de fato gera desconforto, sofrimento; simplesmente porque nem sempre esta pessoa será compreendida, mas a firmeza do caráter de qualquer escolha que se faça possibilitará novas tendências e atitudes menos persecutórias.

Então chegamos ao impasse das escolhas. No impasse onde a pessoa poderá escolher olhar para a vida sob dois ângulos, ou prisma se preferirem: um lado bom ou um lado ruim. Do lado bom podemos pensar que seja formado por elementos bons, cujas possibilidades e realizações levem a pessoa a um bem estar, ao sucesso dos próprios empreendimentos e dos conceitos satisfatórios da vida, mesmo diante de algumas derrotas ou frustrações, pois a tônica do viver é a esperança, a fé, a força e a autoconfiança em si mesma. Já o olhar pelo lado ruim as coisas também poderão acontecer, mas os resultados nem sempre deixam sensações ou impressões agradáveis, pelo contrario podem trazer registros ruins, funestos, negativos sobre tudo e todos e consequentes doenças da alma ou do corpo, porque a predisposição do olhar para a vida pode estar contaminado, perseguido por sentimentos e emoções negativos.

Temos uma forte tendência de esperar que a sorte ou o azar chegue por fatores externos, alheios a nós. Quase sempre atribuímos a sorte (felicidade), ou o azar (infelicidade) a outrem que chegou para alegrar ou azarar nossa vida. E por que agimos ou pensamos assim: idealizando as coisas e as pessoas além do nosso próprio ser? Podemos dizer, e interpretar que isto acontece porque tendemos a permanecer os sonhos, as ilusões de tenra infância vivida e real como eram até então, ou seja, apesar da maturidade, da evolução do ser, uma parte apaixonada ou não insistirá em representar antigos modelos de auto-realizações. Nestes casos perguntamos de quem é a culpa sobre nosso sucesso ou insucesso?

Vamos olhar para o lado bom das coisas. De fato nem tudo são flores, mas também não há mal que dure para sempre. Precisamos aprender que a autonomia só é conquistada diante dos erros e acertos que realizamos, colhemos e conseguimos aguentar. Dito isto observamos que existem pessoas que não suportam nem mesmo a felicidade, tanto quanto não aguentam os infortúnios da vida. São geralmente pessoas queixosas, temerosas e sempre prontas a imaginarem que a vida é um lugar de mares revoltos.

Então diante da vida qual olhar você poderá escolher? De que lado você quer estar? Mesmo que lhe pareça difícil qualquer momento imposto pelas ocorrências, procure olhar para o lado produtivo e criativo da sua vida. Precisamos ficar atentos as emergências da vida atual onde tudo parece passar rápido demais, onde o efêmero é primo irmão da fragilidade e da incompetência. Ser forte hoje esta ligada a ter dinheiro e fama. Pela mídia somos levados a deixar de pensar e escolher o melhor para nós, nossa família. Vamos seguindo quase num impulso latente para realizar sonhos e desejos imediatos. O tempo hoje é do agora, não há tempo para o amanhã. O amanhã é já. Passado é algo obsoleto. O duro disto tudo que pensando friamente algumas vezes ouvimos dizer que o presente também já está ficando para traz, o aqui e agora num minuto seguinte fica obsoleto, não nos deixam nem tempo para a saudade e a reflexão sobre o que fizemos ou queremos. Diante deste momento singular da sociedade e suas implicações emergenciais podemos ainda escolher o melhor para nós mesmos e isto só será possível diante do ato de reflexão que você imprimir cada dia mais diante de si mesmo e tudo a sua volta, que seja num divã ao lado do analista ou se preferir sozinho consigo mesmo.

Graça Costa

Amparo, abril de 2011.