Mulheres no fim de tarde

Ponto de onibus.

Mulheres cansadas, carregadas de sacolas bolsas e cansaço.

Mulheres de peles suadas, enxutas e enrugadas

Mulheres vão entrando no ônibus com a esperança nos olhos de encontrar um banco vazio para descansar ao menos durante o trajeto.

Mulheres Amélias, mulheres livres, mulheres objetos...

Umas guerreiras, outras parecem freiras escondidas por panos, lenços e saias...

Outras tão livres, tão soltas, despojadas, despejando em cada olhar um sorriso breve

Todas elas... Nada leves.

Nos ombros carregam o lar. Do teto às fundações!

Cada uma com sua sacola, levando junto com as frutas, as verduras e o pão um pouco de ilusão.

Umas ainda animadas, rindo, conversando com as comadres, conhecidas, vizinhas... Outras como eu... Só querendo um pouco de paz pra observar. Pensando nas portas que se fecham nas que se abrem.

A roleta gira e mais uma entra, outra sai.

Como a onda que vem e que vai.

Vou seguindo cada uma delas, pela janela. Me pergunto o quanto ainda terá que caminhar com aquelas sacolas pesadas e com os pés ardendo nos sapatos.

Se elas terão alguém para ajudar com as crianças, com as roupas, com os pratos.

Tentei por várias vezes ler o pensamento de cada uma, mas parei depois que comecei a ler os meus próprios.

Mulheres que caminham corajosas ao fim do dia que nunca termina. Ao crepúsculo que se emenda com a aurora.

Reparo nas unhas, feias, e nas feitas. Lembro-me das minhas jovens de outrora.

Olho minhas mãos com o esmalte já gasto. “Fiz ontem e já está assim!”

No trabalho o pó dos livros e em casa o balde, ambos nunca se esquecem de mim.

A roleta gira, alguém puxa a corda, é minha vez de descer agora.

E assim como todas, vou planejando a janta, a vida e os sonhos, carregando tudo nos olhos e na sacola.