Crônica rural ou o Jaburu-Moleque
O jaburu-moleque é uma linda ave pernalta. Também é muito pontual.Costumo vê-la nos finais de semana ou feriados quando vou bater a minha ceva de piau numa curva do rio Urucuia. Ele passa subindo o rio em direção as dezenas de lagoas e vargens que existem na margem do rio, impreterivelmente, ás seis da manhã.
É belo observá-lo. Voando, bate suas asas com força e elegância, cabeça firme para a frente, focado em chegar ao seu destino, como se nada mais se importasse nesse mundo. Quando vai pousar ele para de bater sua asas e abre-as, estica as pernas para frente e quando toca seus pés no chão, na vargem de alguma lagoa, ele corre uns seis metros para parar. Então ele caminha com elegância até a água para catar sapos, moluscos, pequenos peixes e vermes que ficam na água e na lama. Onde ele está nenhuma ave chama mais a atenção é senhor do lugar, todos querem olhá-lo, gravá-lo na retina.
Uma vez, na minha infância, achei um ninho de um casal quando campiava gado nelore com meu tio Zeca, nas bandas da barrenta. Era no gancho de uma árvore seca, bem alta, na borda de uma mata ribeirinha. Os pais estavam alimentando os filhotes, uns pintalhões de penugem encardida, do tamanho de frangos. Os pais não voaram, ficaram prestando a atenção em nós. Me encantou, o quadro é nítido em minha cabeça.
Quando é de tarde, volto para o meu ponto de pescaria e fico ali, na boba espera, quando é na boca da noite, ele vem, com sua companheira, descendo o rio com a mesma dignidade que subiu, em direção de seu ninho, com certeza em algum ninhal, na beira de uma lagoa isolada por alguma mata. Ganho mais um dia e alguns mandins-amarelos e piaus-campineiros pra fritar. Deus é fiel e como é linda a sua obra.
Geraldo Rodrix