Minha coleção de ossos...
Não há nada que possa limpar a minha alma da tragédia de viver momentos como o mundo viveu hoje. Não importa onde esta acontecendo. Há alguns anos assistimos desnorteados, dois garotos entrarem em uma escola norte-americana atirando em seus colegas... Pensávamos, “que coisa horrível de se ver!”... Mal sabíamos que estávamos sendo preparados para muitas histórias de terror como aquela, o mundo se tornaria um lugar tão perigoso de se viver que ficaria difícil até pra respirar.
Esta difícil respirar agora.
Não sei quando comecei a colecionar ossos, mas eles estão lá, enterrados em meu coração, sob uma lápide que pergunta quando foi que a humanidade deixou de sentir amor pelo próximo, quando foi que a vida passou a valer tão pouco, quando foi que meus sentimentos passaram a ser mais valiosos do que o senhor aposentado sentado no portão, do que a menina de laços no cabelo que caminha inocente para escola, do que uma adolescente que escolheu seguir em frente. Quando foi que a empatia deixou de existir? A escritora Ana Beatriz escreve que “Ser consciente não é um estado momentâneo em nossa existência, [...] Ser consciente refere-se a nossa maneira de existir no mundo.” [Mentes Perigosas; pg 25] E o que tenho visto são pessoas sem consciências, desprovidas de empatia, megalomaníacas e sem escrúpulo algum. Não sabem existir como humanos. Quando foi que criamos esses monstros, quando foi que abrimos as jaulas dessas bestas feras?
Hoje, um homem abriu fogo contra crianças em um colégio perto de minha casa. Onze crianças mortas, sem causa, sem motivo. Onze corpos serão enterrados. Não há lagrima que baste. Não há nenhuma questão que esteja passível de resposta. E qualquer resposta é pouco para aplacar o coração dos pais.
Meu cemitério esta ficando lotado. Uma atriz assassinada em um carro, um garoto arrastado pelo asfalto, uma adolescente morta em cadeia nacional pelo namorado/assassino/estrela-de-tele-repórter. Uma menina atira da janela pelo pai. Outra estrangulada no motel pela madrasta, Onze assassinadas a sangue frio por um homem que se achou acima da lei de Deus, que não se importou com a inocência, não se comoveu com apelos de misericórdia, desprovido de empatia e consciência...
Meu cemitério recebeu mais onze corpos e Minh ‘alma está mais pesada, meus espirito mais desesperançoso. Meu coração de pai esta de luto. Quantos homens e mulheres que amanheceram como pais e mães irão dormir sem seus filhos.
Seus filhos vieram povoar meu coração, minha galeria de horror. Vieram fazer parte da minha coleção de ossos