Cadeira de Balanço

Não sei quantas horas fiquei por ali. Ela era de ferro e almofadas soltas. Juro que não me lembro bem da sua cor, mas acho que era vermelha e azul. Se hoje, eu a colocasse na minha casa, não combinaria com nada. Minha sala é verde, é branca e é tabaco. Nada da minha casa hoje me faz lembrar aquela cadeira; no entanto, ela está aqui.

Ela está nas minhas lembranças como nunca. Ela não era exatamente minha, era da casa da minha avó. Mas erámos sempre nós que estavamos sentados ali: os netos. Havia dentro de casa uma outra cadeira de balanço, só que essa era de assento e individual e o lugar preferido do meu avô. Quase nunca sentávamos lá. Mas o balanço de três lugares da varanda, esse sim era nosso!

Lembro-me bem de que foi lá que ri muitas vezes, que chorei outras, que discuti com minha mãe, que eu e minha irmã trocamos confidências. Não sei o motivo, mas quando penso na cadeira de balanço, sinto vontade de chorar. Não sei se é saudade da infância, característica bem romântica de 1ª fase, se é saudade das pessoas... e quando digo das pessoas, não digo as que já não estão mais aqui, digo das pessoas que fomos... despreocupadas, sem culpas, sem grandes responsabilidades, tudo o que temos na infância e na adolescência. Os primeiros namoros, as primeiras dores no coração.

As primeiras ilusões e desilusões. A escola, as poucas responsabilidades, as músicas e os apelidos do meu avô.

Ele nos apelidava com nomes engraçados, suas músicas eram engraçadas, seu humor era intenso. Transferia-nos seu humor a todo instante. Eu desejei muito que meus filhos tivessem um avô como o meu, mas não tiveram. Tiveram outros, nem melhores, nem piores, apenas outros.

Mas aquela cadeira de balanço... penso que nunca me esquecerei dela, o que ela representou na minha vida e na vida dos meus irmãos e meus primos. Era o nosso lugar preferido na casa da minha avó.

Ali nós crescemos, brincamos, vivemos. Ali eu também amamentei minha primeira filhinha e depois a segunda. A cadeira de balanço não passou rápido pela minha vida, ela ficou e hoje está na memória e na saudade, no desejo de dias tão felizes quanto aqueles na cadeira de balanço da casa da minha avó.

Barbara Bittencourt
Enviado por Barbara Bittencourt em 03/04/2011
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