O HOMEM É UM ANIMAL RACIONAL



 
Costumo ouvir que o homem é um animal racional. Muitas vezes repito isto para mim mesmo, entretanto cada vez mais creio ser uma farsa, uma inverdade lógica, ou mesmo uma crença injustificada. Pode ser uma frase de efeito, mas despe-se de conteúdo social e mesmo epistemológico, pela falácia que traduz.
 
Ao longo de minha experiência de viver tenho buscado, tentando inclusive leituras alternativas da realidade que percebo, provas que corroborassem ou que pelo menos dessem sustentação, a priori ou a posteriori, analítica ou sintética, direta ou mesmo contingencial, a esta afirmação.
 
Minha parca experiência própria, e minha leitura do mundo em que vivemos, da natureza humana, e diretamente da pseudo sociedade humana que construímos, nada me faz crer que o homem seja realmente e mentalmente um animal racional.
 
Bastaria para mim a prova direta, nada contingencial, facilmente evidenciável a posteriori, e portanto nada complicada de ser “intuitivamente” perceptível, de que não podemos ser animais racionais, e mesmo assim nos mantermos ausentes com tamanho abandono social e humano, mantendo desamparados ao relento desumano, e largados a sorte improvável, uma multidão de irmão espalhados pelo nosso maltratado, por nós mesmos, planeta.
 
Somos sim meros animais envolvidos apenas com nossos interesses, mesmo quando nos atemos a fazer caridade, a maioria absoluta de nós o faz apenas como forma de se liberar de alguma culpa própria. Jamais desqualificaria a caridade, ela é necessária e digna, mas totalmente improdutiva. Nossa ajuda caridosa, muitas vezes é feita apenas com sobras: financeiras, de tempo ou de bens que já não mais nos interessa.
 
No fundo ninguém quer lutar, ou verdadeiramente se revoltar, contra o estado vigente, político, econômico e social, posto que temos medo de perder nosso conforto, nosso poder, nossa pseudo felicidade em prol dos nossos irmãos abandonados. Porque lutar contra o liberalismo econômico se com ele eu alcancei tudo que tenho? Porque dividir meus bens e minhas casas com os demais? Prefiro me enganar afirmando que se eles, os abandonados, fizessem por onde, eles também teriam chegado lá, afinal muitos conseguiram. Sinceramente, estes aparentes muitos são reduzidos a muito poucos. Realmente muito poucos abandonados realmente conseguiram alcançar algo de bom no liberalismo econômico, e mesmo estes se esqueceram do que foram um dia. Esquecemo-nos que os bens são finitos, os recursos são limitados e a má distribuição e uso destes faz com que tudo que eu tenha a mais, ou use a mais, vá faltar para outro, ou outros. Esquecemo-nos que os verdadeiros artífices da produção, a linha operária, chão de fábrica, aquela que realmente produz a riqueza, é a que menos se usufrui do resultado dela. Aqueles financistas, ou administradores que quase nada de bem produzem, são de longe os que mais se apoderam das riquezas geradas pelos que menos a usam. Esquecemo-nos que mesmo fora do chão de fábrica existe verdadeiramente uma população infindável de indigentes humanos abandonados.
 
Aquele grande empresário que hoje abre uma vaga de trabalho, e se faz de socialmente preocupado, só abriu a vaga, pois percebe fonte de maiores lucros. Este mesmo empresário será o primeiro a fechar aquele ou outros postos de trabalho, tão logo possa obter mais lucros sem esta, ou sem estas posições de trabalho. Este mesmo humanitariamente preocupado empresário deslocará esta vaga para outro país tão logo encontre em outro lugar a possibilidade de maiores lucros.
 
Somos ainda vaidosos, presunçosos e egoístas.
 
Como seriamos animais racionais? Pode ser que seja eu o errado, pode ser que eu não saiba o significado verdadeiro de ser racional, a menos que sejamos racionais apenas para nossos próprios interesses.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 01/04/2011
Reeditado em 01/04/2011
Código do texto: T2883906
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