REBIMBOCA DA PARAFUSETA547378.jpg

 

Onde é que vou colocar tanto plug, tanto cabo de USB e de Vídeo, tanto carregador de celular sem uso,  tanta extensão, tanta rebimboca sem parafuseta e tanta parafuseta sem bimboca?

 

Certamente você deve está, como eu, cheio de tantos cabos eletro e eletrônicos sem uso. Tenho uma gaveta em que coloco todos esses conectores sem uso – uns porque já nem funcionam; outros porque ficaram obsoletos; outros em duplicidade; outros pela possibilidade de uso diante de uma eventual perda dos que estão na titularidade. Outros porque simplesmente não sei pra que servem. O que fazer com eles? Claro que todos sabem que poderemos jogar no lixo. Ou deixar apenas os sobressalentes. Ou simplesmente conviver com eles pela possibilidade de não arriscar colocar no lixo porque certamente irão poluir a natureza.

Como vemos, a tecnologia que tanto nos facilita a vida, também tem seu lado obliquo. Tomando por base apenas os cabos citados, não podemos deixar de contextualizar os demais componentes sem uso  que dispomos como rádios velhos, TVs, pilhas, baterias, resistências, enfim, além de cabos, “soldados, sargentos, tenentes, coronéis”, etc., que povoam nossa vida dita moderna.

No meu cantinho quieto, fico matutando: seria muito bom se os nossos cabos e conexões humanos pudessem ser recuperados, principalmente com as pessoas que se perderam de nós por algum motivo. Não precisa saber quem tem ou não razão para religar, apenas perdoar e recuperar os amores rompidos, os abraços negados, os beijos não correspondidos, os afetos perdidos na imensidão do mar. Diferente dos cabos e conexões da tecnologia, as conexões humanas não podem ser jogadas no lixo. E se isto pudesse ser feito, certamente iriam tornar os lixões mais nobres, mais disputados pelos catadores.

Torço para que um dia eu possa arrumar um cabo de USB para me conectar ao amor. Outro para eu conectar a própria solidão – pois assim a conduziria para desaguar no mar do afeto e certamente ela, enquanto solidão seria menor. Uniria via ARLESS todos os meus amigos distantes, todos os colegas de ginásio e de grupo escolar dos meus tempos de infância.  Com um cabo de vídeo HDMI queria conectar o mundo dos sonhos: mostrar pela televisão imaginária do amor, um mundo de paz, de gente bem intencionada convivendo em harmonia com todos os diferentes e diferenças.

“Acorda Alice”, digo pra mim mesmo. Mas não custa nada sonhar, pois enquanto essa possibilidade não nos for subtraída pela tecnologia via cabos ou controle remoto, seguiremos acreditando nas possibilidades de ser feliz com o simples. Simples como o livro de papel, ou o book se preferirem. Simples como um café com pão e manteiga pela manhã. Simples como um olhar apaixonado em direção ao ser amado.