Bem-Vindos!

Ao pé da gente, baixou aqui, o presidente.

Ouviram bem ou precisa que se repita?

- quem visitou a gente era o presidente!

O Rio de Janeiro – que é da gente mesmo quando a gente não é de lá – enfeitou-se, abriu tapete por cantos e barrancos. Parabéns a quem é de tapeçaria, o trabalho foi impressionante!

A quem só a existência resta, aquela necessidade enorme de se contagiar com um baita sorrisão de orgulho: “sim, ele está aqui, na minha terra...!”.

A quem só memória é: ta lá, a imagem de Napoleão na cabeça.

Pois, num dia caduco de 1808, o Rio se verteu em cidade-centro por obséquio daquelas covardias heróicas tão ímpares que nem a história oficiosa sabe reservá-las um conceito. Vieram naus denodadas, desta vez era até concebível que o caminho das Índias estivesse nas rotas deles, mas qual não é a sorte do reino de Portugal? – um Brasil inteiro, apenas para não ter-se em tripas como laço de cavalo para Napoleão. Dom-Dom fugiu, descalço, quase-nu, quase-altivo. Dom-Dom sabia – sem ter consciência disto – que no Brasil tropical todas as condições estavam postas para um rei exercer o trono – exceto o calor, os mosquitos e a gelosia – mas o séquito... Ah, que terra feita para súditos! Senão, como convencer a Dom-Dom de que não se tratava de bajulação, mas sim, exaltação de afago daqueles que são carentes de pai e órfãos de pátria?

Março de 2011, o presidente esteve aí. O mesmo tipo de sensação, só que desta vez sem brasão. Estar na mira do presidente é como ter recebido um dom: de repente, a oportunidade ícone. E eis que muitos se atiraram na cara no presidente para rebolar, bater uma bolinha, mostrar como a falta de saneamento básico lhes bate à porta, provar que fritura também é coisa nossa. Como se a exibição do condicional como é, tapete acima, tocasse o acaso de tal modo que a solução estivesse ali. Na mão do presidente.

Quando da chegada de Dom-Dom, os tapetes ficavam por debaixo, não era mais o Rio um depósito sanitário por desleixo próximo. Dom-Dom era o pai à espera: vai dar um jeito na casa.

O presidente é um grande irmão, que, sem dúvida, resolverá o nosso problema. Pra isso os seus amigos tão fortes e invocados.

E daí que o brasileiro olha pra dentro com a mesma determinação de uma pena em vendaval?

O lance é mesmo olhar pra fora, botar tapete mesmo, e daí? O que você tem a ver com isso? O presidente sabe das coisas, olha como o povo do lugar dele vive bem!

Qual é? Vai dizer que você não queria que o bisavô do seu bisavô tivesse feito algum empréstimo a Dom-Dom lá pras épocas do banco do Brasil?

Sabe você, amigo, tapete foi feito para duas coisas,

- uma: pisar, passar para ser cortejado – e merecê-lo!

- duas: ser puxado!

Presta atenção! Se Dom-Dom passou, se o presidente passou, já passou, ta passado...

...Resta, então... Puxá-lo.

É o destino da história.

Sim, um sentimento desses foi berrado pela minha rua. Sim, era a rua do hotel, estivemos no Rio, não pelo presidente, mas por outras funções. Sim, o vôo atrasou, tudo continuou complicado demais por aqui.

Viu como sempre foi simples ser brasileiro?