Vô João
Vô João
Lembro-me do meu bisavô. Forte, sacudido, entendedor de ervas, exterminador de formigueiros, cuidador de seus cachorros.
Lembro-me do meu primeiro dia na escola. Na volta ele me perguntou sarcasticamente: “Você aprendeu como é um pé de jiló?” respondi com a soberba de quem achava que a vida se aprendia na escola: “Isso não ensina lá!” E ele com seu jeito desdenhoso e provocante: “Então não serve pra nada! Aprender aritmética e não saber o que é um pé de jiló! Quá!”
Ele adorava implicar comigo ou com todos, mas eram suas receitas de chás e sua disposição de entrar na mata, que ainda havia perto de casa, em busca dos seus matinhos milagrosos, que me tiravam das medonhas crises asmáticas ou curavam as ziquiziras aparecidas na pele, livravam-me dos vermes e das enxaquecas: saião, hortelã, erva-de-são-joão, carobinha, macaé e outras das quais não me lembro do nome.
“Vai chover hoje, vô?” e ele estudava o sentido do vento e respondia certeiramente. A gente saía sem a preocupação de ser surpreendido.