NÓS, O TEMPO, DEUS E OS MILAGRES
Conta-se que um homem, certa vez, se encontrou com Deus e lhe perguntou quanto significava para Ele um minuto. Deus teria respondido: - Um milhão de anos. E um centavo? - foi a indagação seguinte, ansiosa. - Um milhão de reais, teria sido a resposta. Então, o homem não vacilou: - Senhor, me dê um centavo. Deus, sorrindo, respondeu: - Espere um minutinho...
O Tempo é de suma importância em nossa vida. Um segundo, um minuto, uma hora, um dia, uma semana, um mês, um ano, passam tão rápidos. Todos os nossos compromissos são regulados por ele. Para isso existem os relógios, os calendários, as agendas. O Tempo sempre foi objeto de estudo, desde Aristóteles, Locke, Berkeley, Newton, Santo Agostinho, Bergson, Einstein, dentre outros grandes filósofos. Nem mesmo Santo Agostinho, tentando defini-lo, conseguiu, no meu parco entendimento, dar uma resposta absoluta. Em Eclesiastes 3-1 está escrito: “Há um momento para tudo e um Tempo para todo propósito debaixo do Céu”, seguindo-se uma bela definição do Tempo para cada ato de nossa vida. Um amigo meu, numa crônica, afirmou: o Tempo é Deus. Eu arriscaria dizer simplesmente que é um instrumento de Deus.
Uma fração mínima do Tempo pode ter muita significação em nossa vida. Pode até ser que ela, num instante, mude radicalmente. Tantos acontecimentos, da mais variada natureza, podem ocorrer inesperadamente, tirando-a ou salvando-a, e isso sucede diariamente, a toda hora, em todo mundo: um acidente, um assalto, uma briga, um infarto. Mas, se um minuto a mais ou a menos evitar que ocorra qualquer desses eventos, alguém pode até dizer ter sido a “sorte” que o/a salvou da morte. Admito, já que a significação do que seja sorte é mais complexa do que muita gente pensa.
Outras pessoas atribuem a milagre o fato de alguém ter escapado ileso de um desastre, quando algum motivo fortuito o fez atrasar-se para pegar o avião que caiu, o ônibus que virou ou escapar por segundos da marquise que desabou.
Recebi um e-mail mostrando vários casos de pessoas que escaparam de morrer no caso das torres gêmeas de Nova York: um, porque comprara um tênis novo que lhe causara um calo no trajeto e tivera que parar numa farmácia para comprar um band-aid; outro, porque fora levar o filho pela primeira vez ao Jardim de Infância; alguém mais por um outro detalhe qualquer. Embora considere que atrasos mais ou menos parecidos aconteçam todos os dias na vida das pessoas, não duvido, absolutamente, que tais cidadãos não tenham sido poupados por Deus porque Ele tem os seus desígnios, que não nos compete querer sondar. Eu, por exemplo, acho que, contrariando todas as expectativas, nasci determinado por Deus para construir uma família numerosa e viver muito, pelo menos os oitenta e seis anos que já tenho. Poderia citar vários fatos e condições que comprovariam essa idéia, mas vou limitar-me a apenas um. Em 1965, como subgerente do Banco do Brasil em Mossoró, fui fazer um curso, com duração de um mês, no Rio de Janeiro. Hospedei-me na casa do parente e amigo Arnaldo Fernandes, no Leme. Tomava o ônibus e descia na Av. Barão do Rio Branco. Daí, tinha que atravessar a larga Av. Presidente Vargas. Inexperiente, quando cheguei à esquina, estando ainda aberto o sinal, iniciei a travessia. Um dia, ao chegar exatamente no meio da avenida, o sinal fechou e as várias filas de carro partiram em alta velocidade, passando em torno de mim, quase me roçando e alguns até gritando palavrões. Tremendo de medo, entreguei minh’alma a Deus. Penso que Ele armou uma redoma de proteção em torno de mim. Após alguns minutos, quando os carros deixaram de passar, persignei-me, dei-Lhe graças, e reiniciei a travessia, o coração batendo a mil e as pernas tremendo “como varas verdes”. Nos outros dias, quando chegava na esquina, estando aberto o sinal, esperava que fechasse e tornasse a abrir, a fim de iniciar o cruzamento.
Não nego, absolutamente, que Deus não esteja atento a todos os nossos passos, às nossas ações, até aos nossos pensamentos. Creio que determinadas pessoas, por suas orações, sua Fé, suas virtudes, merecem atenção especial de Deus. Intriga-me, porém, porque outras, que se supõe com os mesmos atributos, são vitimadas. Rogo a Deus que não tome este meu raciocínio como blasfemo, pois sei que Ele é justo em todas as suas decisões, tem os seus desígnios e sabe o que faz.
Conta-se que o comandante do moderníssimo navio Titanic, ao partir para sua primeira viagem transatlântica, sob o som das orquestras e das girândolas que coloriam o céu, teria dito: - Este, nem Deus faz naufragar. Não sei se é verdade que alguém seja capaz de dizer tal insensatez, mas, o resultado foi o que todo mundo sabe. Centenas teriam perecido pela sua blasfêmia?
Bom, falei tudo isso, mas confesso que, frequentemente, entrego - aliás, entrego não é a expressão correta, porque já Lhe pertence - todos os dias, em todos os momentos, o meu destino. Peço-Lhe, para mim, para minha esposa, meus filhos, netos, bisnetos, genros e noras, por toda a família que generosamente me concedeu, que nos defenda de todos os males, sobretudo dos pecados – inclusive estes das indagações que me perseguem obstinadamente – dos pecados, repito, e de todos os males - a nós e aos nossos parentes e queridos amigos. E sinto, e creio, que os meus pedidos – as minhas orações – encontram ou encontrarão abrigo e indulgência em Seu magnânimo Coração.
Natal, ago/2010.