Assombra-me a sociedade que construímos
Assombra-me a sociedade que construímos
Assombro-me, infelizmente não o necessário para assumir uma posição revoltosa, pela nossa capacidade de criticar nossa sociedade, da qual nós mesmos somos co-responsáveis, se não pela ação direta, pelo menos por omissão de nossas responsabilidades humanas e sociais, e ainda termos a capacidade de buscar argumentos para nos eximir desta culpa, fazendo força para nos iludir com a proposição de que nossa sociedade é o que é sem nenhuma culpa nossa, afirmando coisas do gênero:
- Sou apenas um
- Não possuo poder para mudar nada
- A máquina é mais forte do que eu
- Faço minha parte, os outros é que não fazem a deles
- É responsabilidade do Estado cuidar do abandono social que faz parte da vida de uma multidão de pessoas
- Outros argumentos.
Esquecemos-nos que a sociedade somos nós próprios, ela é reflexo da população que a compõe:
- Somos nós que apoiamos o capitalismo liberal
- Somos nós que escolhemos nossos governantes
- somos nós que arrogantemente nos achamos superiores a maioria, ou mesmo a totalidade, dos pobres e dos abandonados socialmente
- Somos nós que nos iludimos acreditando que a caridade basta. Ela é necessária sem duvida, como uma ação contingencial, mas somente uma sociedade equilibrada social, política e economicamente pode dignificar a humanidade como um todo.
Para piorar, a caridade é para muitos:
- Dar apenas o que sobrou, ou o que esteja velho e sem uso
- Dar dinheiro para que terceiros façam o que não nos predispomos a fazer, sem sequer nos preocuparmos com o bom uso do dinheiro dado
- Uma dádiva divina, que nos envaidece poder fazê-la, e que a miséria existe para que possamos fazer nossa caridade
- A caridade é mais importante do que resolver o problema social, político e econômico, uma vez que assim sempre poderemos fazer a caridade, e principalmente porque a caridade me coloca mais perto de um ser divino.
Enquanto sinceramente não expusermos nossas fragilidades como humanos, percebendo que na essência somos todos semelhantes, que no fundo somos animais sociais e que o sentido de humanidade que nos diferencia dos demais co-irmãos do gênero animal é a única forma de assumidamente construirmos uma sociedade coletivamente equilibrada, não nos será possível erigir um mundo socialmente digno.