O TESOURO DE REBAS
"A sabedoria não nos é dada. É preciso descobri-la por nós mesmos, depois de uma viagem que ninguém nos pode poupar ou fazer por nós." (Marcel Proust)
Nosso relato trata-se de uma “historinha” lida por mim quando criança. Na época achei muito interessante e agora passo a vocês. Entretanto, lembro-me vagamente dos detalhes, contudo, o sentido principal está gravado na minha memória até hoje. Inicia-se numa grande biblioteca, onde circulavam muitas pessoas. entre elas, um aluno de uma escola pública procurava por um livro recomendado pela professora do colégio. Era a primeira vez que ele entrava no local, muito assustado com aquele ambiente foi até a bibliotecária e entregou a referência desejada.
A funcionária consultou o fichário e depois de alguns minutos indicou a estante onde estava o livro que ele precisava. Situava-se no andar superior, então, ele subiu uma longa e tortuosa rampa até o local determinado. Havia ali diversas estantes repletas de livros, rapidamente encontrou o que procurava. Sentou-se numa mesa e realizou sua pesquisa. Depois, ele ficou olhando aquela imensidão de volumes organizados nas prateleiras, prontos para serem lidos. Nas mesas, algumas pessoas, como ele, procuravam solucionar seus problemas, através da consulta atenta daquelas ferramentas do conhecimento.
Do outro lado da sala, sentado em uma mesa, um senhor de idade avançada consultava um exemplar de um livro. Sua atenção estava totalmente voltada para leitura, nenhum som ou movimento perturbava a sua concentração. De repente, parou ler, Foi até ao banheiro e depois dirigiu-se a cantina. lá chegando,sentou-se em uma das mesas, tirou um embrulho do bolso do paletó. Era um lanche de pãozinho francês com presunto e queijo, Forrou a mesa com o papel do embrulho e começou a comer. Devagar, mastigava os pequenos pedaços que colocava na boca. Parecia fazer isso com muita atenção e prazer. Depois, vagarosamente limpou os lábios com um lenço de papel, que tirou do outro bolso. Posteriormente,entrou novamente na sala da biblioteca, voltando a sua tarefa anterior, isto é: a leitura.
Alguma coisa nesse Senhor chamava a atenção dos outros sobre si, não se sabia ao certo o que era. Talvez a sua tranqüilidade em executar as tarefas mais simples, como alimentar-se e ao mesmo tempo prestar atenção nesse ato tão comum, que a maioria das pessoas executa automaticamente. Ou talvez, a sua capacidade de se desligar completamente quando estava lendo.O fato é que ele não passava desapercebido, sendo portanto, notado pelo garoto.
Por outro lado, O menino entusiasmado com aquele ambiente passou a freqüentar o local. Todos os dias sempre no mesmo horário, ele dirigia-se a biblioteca. Gostava mais de ver as capas do que realmente ler o conteúdo dos livros, o velho que viu no primeiro dia, também era freqüentador assíduo do lugar. Com uma diferença, estava sempre lendo um livro.
Um dia, o menino se aproximou daquele enigmático senhor e disse: - Posso sentar-me? –É claro que sim meu filho, como você chama? completou o velho. -João e o senhor? –Paulo, posso ajudar você em alguma coisa? continuou atenciosamente. –O que tanto o senhor procura nos livros? – Eu procuro o maior dos tesouros e ele se encontra aqui, entre esses milhares de livros. –Como se chama esse tesouro? perguntou o curioso menino – O nome dele é TESOURO DE REBAS, quem possuí-lo ficará rico e feliz. – Quer dizer que ele encontra-se em um desses livros? insistiu o garoto. –Sim, basta procurá-lo, mas tem que ter muita atenção ao fazer as leituras, pois, pode não percebê-lo. João ficou muito pensativo, não falou mais nada sobre o assunto, Despediu-se e voltou para sua casa.
No outro dia, no mesmo horário, estava ele novamente na biblioteca. Porém, o velhinho não estava mais lá. Mesmo assim, suas palavras não saíam de sua cabeça. Então, João iniciou a sua nova pesquisa. Com o tempo, aquilo passou a ser um hábito normal de sua vida. Mesmo depois de adulto, todos os dias, após o trabalho tirava umas horas para dedicar-se à leitura.
O estudo continuado, entre outras coisas, propiciou-lhe um excelente emprego, tornando-se um professor respeitado e querido por todos. Sempre disposto a ajudar quem dele precisasse. Assim, os anos foram passando. Um belo dia, como de costume abriu um velho pergaminho na secção de livros raros da biblioteca onde lecionava. Curiosamente, uma folha desse livro encontrava-se praticamente em branco, se não fosse por um pequeno detalhe. No meio da página estava escrito em letras “garrafais”: o TESOURO DE REBAS, na frente da frase, uma indicação: leia o termo ao contrário. Imediatamente, ele atendeu a recomendação. Rebas escrito ao contrário significa literalmente SABER...!
João coçou a cabeça calva e pensou: realmente estava ali o maior dos tesouros, pois os anos que passou estudando, abriu-lhe a mente e o coração. Proporcionando assim, uma vida plena, repleta de realizações e felicidade!