38. Os jardins da casa de Monet
Se me dessem a escolher entre a casa de Monet e os jardins da casa de Monet, escolhia sem pestanejar nem peso na consciência os jardins. Escolhia à primeira oferta sem hesitar. Logo ali. E suspeito que Monet, nas mesmas circunstâncias, fizesse o mesmo.
Entretanto, porque cheguei ao fim do bloco de notas, este velho e leal companheiro dos dois socos, confidente dos bons e dos calados, procurei um espaço livre nas folhas anteriores e encontrei um a calhar entre as notas das crónicas 35 e 36.
Aqui encaixo o resto.
Escrevi. Sentado a um banco junto a um lago artificial. Passavam e passavam pessoas como as pessoas que passam em lugares de peregrinação iguais: de todas as cores, idades e sons. Pode tirar-me uma fotografia? Tire-me uma também a mim. Obrigado. Assalta-me algo aparentemente estúpido, um sentimento de nostalgia por não ir ver mais quem passa pelo meu banco.
E fores. Sei o nome de algumas, tiro fotografia a todas para ao depois procurar o nome delas. Gosto de chamar os nomes das flores às flores. Vejo que não conheço nem metade dos seus nomes.
Isto aqui é um pequeno paraíso de sossego. A palavra que uso com mais frequência depois do primeiro soco. Apetece estar. Apetecia ficar ali. Isto aqui, dá-me assim de repente ares ao parque Terra Nostra nas Furnas. Aqui, em ponto pequeno, aí, em ponto grande.
Não fosse a Olga e o neto Alexandre, estarem à minha espera, eu ficaria aqui sentado até fechar. Confesso que não sei sequer onde eles possam estar. Mas, não estou nada apoquentado. A gente encontra-se.
Mário Moura
Giverny, 15 de Julho de 2010