SOPHIA LOREN E EU...

Costumo dizer, em tom de brincadeira, que já ganhei pra Sophia Loren no quesito CASAMENTO.  Dizem que ela se casou sete vezes, mas esta matemática é o de somenos importância. Na condição do homem já vou mais ou menos aos nove “ajuntamentos” afetivos. A precisão dos números bem como a condição oficial das uniões não me incomodou haja vista que sempre me pautei, nas ralações, pela sua legitimidade. Este contexto se prende à necessidade que temos de viver intensamente sempre. Nesta lógica o AMAR, o FICAR, o NAMORAR ou o simplesmente se ENTREOLHAR basta. Neste sentido, defino o viver em sua intensidade, porque não podemos ignorar que ser feliz sozinho pode até acontecer, mas a plenitude da felicidade está no outro – no encontro, no companheirismo, na troca que só o cotidiano permite o estabelecimento do amor.

De todas as pessoas com quem dividi o afeto, com quem dormi e acordei poucas não mantém comigo relação de amizade fraterna. Sofrimentos? Houve. Traições? Houve. Brigas? Houve. Tudo dentro do contexto holístico da vida como ela é e às vezes como ela não é. Por que não? Afinal a ortodoxia da vida é uma invenção social importante, mas nós temos que ter dentro de nós nossas idiossincrasias, nossas mais intimas invenções sociais e até afetivas.

Sempre acreditei que a gente não se ama dentro do socialmente estabelecido. A gente desenvolve a “amorização” tomando por base a cultura vigente, mas inserindo nela princípios particulares de sustentação. Neste viés a imaginação pode ser a dona do pedaço, mas pode igualmente nem ser. Porque a grandeza do amor e das relações está na falta de paradigmas – donde os  entes apaixonados se permitem definir suas regras intimas de relacionamento, como por exemplo, determinadas praticas sexuais.

Sou feliz nesta comparação com Sofia Loren. Não tenho problema na condição de homem me comparar com uma mulher. Essa trajetória afetiva da divisão da minha cama e da minha lama me conforta. É como se o tempo não tivesse passado por mim como dono absoluto da vida. O tempo foi-me companheiro. Abrigou e me defendeu da solidão. O tempo curou ressacas de fossa dolorida insana. Mas ele me recuperou de mim quando a dor não tinha remédio pra vender na farmácia. Nem o sexo vendido na praça me satisfazia como unguento.

Sophia deve ter sofrido como eu sofri e sofrerei se preciso for. Nunca um amor que nos provocou sofrimento e dor será capaz de nos blindar contra novos amores. Dizer que isto acontece pode até ser, mas talvez em função de dificuldades particulares de cada pessoa. Um amor que se foi não deixa padrões para outros que virão. Nem serve de medida para a gente não “quebrar a cara de novo”. As relações são como nossas expressões digitais: únicas. O que muda é o formato de cada dedo. O que não muda é a mão. Aquela que afaga ou que apedreja, mas que não abre mão do aceno triste do adeus se preciso for.

Dizem que Sophia Loren casou sete vezes. Eu já vou a nove e estou achando é pouco. Preciso dizer que sou a favou de relações estáveis? Às vezes me divirto com pessoas “erradas” enquanto as certas não chegam, mesmo sabendo que isto não seja politicamente correto. Este pode ser o meu "preço" de viver o afeto em todos os tempos. Eu só não desejo pagar pelo que não devo.