CAFÉ COM PÃO E PROSA

 

Hoje é domingo, pede de cachimbo. Cachimbo simbólico de gestos simples. Do café da manhã com pão e manteiga, regado ao papo em família. Da leitura do jornal na varanda. Do soninho na rede. Do almoço em família. Dos telefonemas, por que não? De uma passeada pela Net, por que não?

Domingo é um dia muito particular. Por mais que a modernidade se meta em nosso cotidiano algumas coisas ela não modifica a essência. O domingo é um desses sentimentos que atravessa séculos, graças a Deus. Compatibilizar esse tempo de tecnologias e benesses materiais com nossas antigas formas de ser feliz, às vezes confunde. Aos mais jovens chega até a deslumbrar, mas gradativamente, velhos hábitos se reconstituem e muitos deles “acordam” e retomam um pouco do trajeto da cultura secularizada da família.

O sentimento do domingo é em sua maior parte, um sentimento de família. Esta que um dia foi numerosa, produto da sociedade patriarcal, hoje está nuclear, resumida geralmente a pai, mãe e filhos. A casa grande sucumbiu. O urbanismo virou modo de vida. Os apartamentos tomaram conta das relações que, quando muito, se interligam por alguns membros da mesma família que residem em outros apartamentos em bairros distantes. O bom é que continua família. O melhor é que a modernidade modificou, mas não extinguiu essa instituição fundamental para a manutenção de nossos valores.

“Amanhã de manhã vou fazer um café pra nós dois”... É um pouco do substrato da família num gesto simples revestido de romantismo. Romantismo – um pouco do combustível que muito colabora com o sentimento domingueiro. Talvez Roberto Carlos não tivesse inspiração tão acurada se sua família não lhe proporcionasse, mesmo que inconscientemente, esse valor que é tão agregado a outros de igual importância.

Café com pão e manteiga é tudo de bom no café da manhã. Por mais que a gente tenha dezenas de frutas, doces, iguarias mil, o nosso café com pão está lá. Representa um pouco do que nosso feijão com arroz significa para o nosso almoço. Quem já não teve uma fome de feijão com arroz e bife?

Domingo é a conjugação de gestos simples. É o pão, o café, o jornal. O passeio no parque, a missa, o culto, o cinema, a pipoca, o livro, o namoro de mãos dadas. O sono prolongado, o telefonema demorado, o almoço em família, o ócio. A preguiça do domingo é santa. Pode-se aproveitá-la pra não “fazer nada só pra deitar e rolar com quem se fica... Ou se ama”.