AVENIDA GUARARAPES COM RUA DA AURORA.

 

Hoje o RECIFE está, literalmente, pegando fogo! O carnaval toma conta de tudo, contagia a todos, inclusive a mim. Só que no meu caso, alguma coisa acontece em meu coração, bem caetaneantemente. É que quando cruzo a Avenida Guararapes e a Rua da Aurora, sinto todos os meus blocos passarem: O BLOCO DA SAUDADE de antigos amores ali construído; BLOCO DAS ILUSÕES, tantas vezes ali dissipadas, perdidas entre o frevo e a alegria, mas consoladas por lágrimas que nem sei por onde andam; BLOCO DAS FLORES, com seu coral afinadíssimo jogando agua perfumadas em mim sem saber que por dentro, tantas vezes, havia  um “mal cheiro emocional” causado pelo gesto de adeus; BLOCO BATUTAS DE SÃO JOSÉ, centenário na disseminação lírica do amor sem “batutas” – amor livre, sem condutor efetivo, mas cheio de princípios independentes, autônomos em função do afeto; BLOCO FLOR DA LIRA que nos sacudia no enfrentamento com MADERIAS DO ROSARINO. Ah, Madeiras! Logo tu que és forte e que ao cupim não cedes, mas o amor acende intempestivamente! BLOCO VASSOURINHA, ah meu VASSOURINHAS que não conseguia varrer de mim a dor da separação de um grande amor que um dia tive e que, descarrilado no ritmo frenético do frevo, presenciou meu ultimo beijo matinal surgido no carnaval da imaginação fértil que me liga à Avenida Guararapes.  Varre, varre, Vassourinhas! O tempo é outro e eu sou meio-eu-mesmo, apesar das marcas dos anos e de alguns desenganos próprios de quem está vivo sem ser por viver. No carnaval a gente tem a certeza de quem é que vive por vier, cumprindo tabela, como se diz no futebol e de quem existe em função da paixão e do amor que a vida nos concede.

A Avenida Guararapes está invadida de decoração sofisticada. A Rua da Aurora parece não receber mais o mesmo sol das nossas manhãs. Manhas de ruas insólitas, líricas no seu formado e cheias de CARLOS PENAS FILHO na alusão de que são filhas dos nossos sonhos, como as cidades. O frevo perdeu um pouco do espaço e da galhardia dos seus acordes. Mas os acordes interiores do povo do Recife e de Olinda continuam afinadíssimos, CORDADOS. BANHISTAS DO PINA, vem cá me dá um banho de cheiro para que neste domingo de carnaval a GUARARAPES e a RUA DA AURORA se resgatem no glamour e na bem aventurança que o frevo traz. Silencio! Um solitário tambor soa compassado lá pras bandas de além mar. Um apito trina um silvo triste meio lírico meio bélico. Não estará ele me chamando para desfilar no BLOCO DAS ILUSÕES?

Vou correndo atrás dele. Vou cantando um hino do nosso frevo de bloco de Aldemar Paiva: “Quem tem saudades não está sozinho, tem o carinho da recordação. Por isto quando estou mais isolado fico bem acompanhado com você no coração”. Alguma coisa acontece no meu coração.

 

FELIZ CARNAVAL 2011 PRA TODOS.