Feitosa dos Santos

PROCURO A JUVENTUDE PERDIDA

 
Que eu me lembre, nunca pedi para trilhar o caminho da velhice, nunca busquei e nem pretendo buscar esse desvio mais comportamental do que físico.
Brigo e muito comigo mesmo, porque o corpo cede às tentações da inércia, mas o espírito diz não com maestria e sabedoria.
Durante toda a minha vida corri atrás das minhas vontades; e a mais procurada foi à juventude perdida a cada minuto, a cada dia.
Não me importam quantos anos eu tenha. Importa-me saber que ontem eu era mais jovem do que hoje, logo preciso viver esse hoje, com toda intensidade, porque no amanhã serei tão somente mais velho que ontem, e do que hoje.
Muito me lamuriava, quando não tinha uma companhia para sair, jogar conversa fora, ir a algum lugar. Mas o tempo ensinou-me a compreender que a melhor companhia para mim, sou eu mesmo. Se eu estou bem comigo, por que não fazer companhia a mim mesmo? O que há de errado em você acompanhar você?
Não quero com isso menosprezar a companhia de outras pessoas, pelo contrário, é bastante interessante uma via de mão dupla, mas quando não há essa outra pessoa, que mal há em você curtir a vida junto com você? Eu aprendi a me aceitar como companhia em qualquer ambiente, em qualquer festa em qualquer espaço que caiba eu e eu.
A isto eu considero uma busca pela juventude, “não chorar o tempo perdido”, e tome clichês, mas foi uma porta que eu encontrei para não me tornar velho e ranzinza antes do tempo cronológico. E é bem provável que eu nunca venha a ser esta espécie, que considero abominável. Velho quanto à cronologia sim, mas velho e ranzinza nunca.
Para que essa juventude aconteça é necessário ser portador de humor, paciência, afetividade, desprendimento e uma dose extra de amor para comigo mesmo e para com os outros.
A minha constituição psíquica, não permite que me aquiete em um cantinho a choramingar as desventuras por acaso contraídas. Transformá-las em alicerces para os acertos é que me leva ao ápice dessa juventude experimentada em todos os sentidos.
Pretendo viver o espaço de tempo que me resta, com todo o fervor vital possível, sem mágoas, sem culpas, sem as chatices, sem as rabugices; mas também sem embargos e cobranças de quem quer que seja.
Cada pessoa vive da maneira que escolheu para viver, se escolheu um caminho sinuoso, não a refuto por assim ser, mas a mim, cabe escolher o meu caminho e o meu caminhar. Acredito ter escolhido o melhor: viver a vida vivê-la bem e feliz. 
A juventude da qual eu falo requer aprendizagem e espaço neste tempo tão corrido e tão desesperador. Vale apena atingirmos o desempenho jovial, que só os anos nos dão, para melhor escrevermos no livro da vida.
 
                     Rio, 04/02/2011
                   Feitosa dos Santos