Barba!
Na verdade, eu não me considero um experto nesse assunto. Na verdade, eu nem mesmo queria ser um. O que eu quero falar aqui é sobre a minha experiência com ela; a barba. Ter barba é bom? Ter barba é ruim? O que significa isso? Se estamos num processo evolucionário, por que ainda nascemos com esse coisa? De nada importam essas peguntas. Depois de anos refletindo se eu queria ter barba ou não, a única conclusão que eu consegui chegar foi: eu ainda não sei!
Para escrever esse texto, eu fiquei tentando lembrar de quando eu tive meu primeiro fiapo de barba. Claro que eu não consegui, mas nesse vasculhamento do passado eu recobrei uma lembrança. Lembrei-me de quando eu estava com uns quatorze anos, algo em torno dessa idade, e estava conversando com um amigo. Nessa conversa apareceu o assunto barba e ele provocou apostando que tinha mais barba do que eu. Eramos dois “caras peladas” e mesmo assim fomos tirar a prova. Como? Raspando a cara com um barbeador e vendo quem tirava mais pelo. Usamos, os dois, o barbeador do meu pai. Eu raspei primeiro, e até fiquei surpreso com o quanto de pelinhos existiam na minha cara. Nada de fios grossos, apenas fiapos finos. Mas provei que tinha. Eu lembro que ele raspou em seguida, usando a lâmina do meu pai (lembro de ter sido xingado por isso mais tarde) e provou que quem tinha a cara pelada mais peluda era ele. Acho que devia ter uns três fios grossos, mas não estou querendo desmerecer o vencedor, só estou dizendo que foi isso que aconteceu.
Mas a parte mais engraçada dessa lembrança, não foi exatamente esse episódio. Eu lembro de ter ouvido alguém, naquele mesmo dia, dizer que; quanto mais se raspava a cara, mais pelos grossos iriam nascer. Não sei quantos dias depois, ou se no dia seguinte mesmo, eu decidi por a prova essa teoria. Fui até o banheiro do meu pai (o único lugar com lâmina para se barbear daquela casa), passei a espuma na cara (aquele monte, como se eu tivesse muita coisa para arrancar dali) e fiquei me raspando por um tempo. Raspava de um lado, depois do outro, e apertava a lâmina, com precaução, mas forte o suficiente no rosto e puxa para baixo, até o pescoço. Depois de ter perdido meu tempo naquela tarefa infrutífera, eu resolvi enxaguar a minha cara e, para minha surpresa, minha cara estava totalmente avermelhada. Como se eu tivesse levado um monte de bofetões. Fiquei assustado e sentia o arder aumentar. Não sabia o que fazer, já estava quase no horário de eu ir para aula. Lembro que eu estudava à tarde nesse época e já era depois do almoço. Tinha que sair, mas minha cara estava ridícula. Não vi outra solução a não ser pedir para minha mãe me deixar faltar à aula naquele dia. (O resto da narrativa desse evento é pura especulação, pois só acho que sei o que aconteceu). Ela me xingou muito, não pelo fato de eu ter envermelhado minha cara toda, mas por eu ter pensado na hipótese de matar a aula. Acho que ela passou um creme na minha cara e me pôs para fora de casa. Eu já estava muito atrasado. Desci correndo, morrendo de vergonha, até o ponto do ônibus, e só sei que sentia muita vergonha. Não consigo lembrar do meu trajeto até a escola. Lembro que quando cheguei ao colégio recebi algumas zoações pela minha cara vermelha e não recordo com exatidão o que aconteceu. A única coisa que eu sei é que, quando eu entrei na sala de aula, dei de cara com meu amigo do dia da disputa com a cara do mesmo jeito. Nos olhamos como dois idiotas e rachamos de rir um da cara do outro.
Aquele dia, creio eu, foi a última vez que eu raspei meu rosto sem necessidade. Até o dia que eu tive que tirar aquele horrível bigodinho de trocador, que insiste em nascer primeiro na cara da gente. Não consigo lembrar também quanto tempo fiquei com meu rosto marcado, mas sei que não passou daquele dia. E, até o dia de hoje, não me lembrava desse fato, mas que até eu fiquei sorrindo com a estória eu fiquei. Quanta idiotice um adolescente precisa passar por conta própria para poder crescer? Os outros eu não sei, mas eu sei que eu precisei de muuuuuuuuuuuuuuuuuita porcaria... prometo contar todas as merdas desastrosas da minha vida, uma de cada vez, é claro!
…continua em barba II...