Provoque a mudança...
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– Você mudou. – Comenta a pretensa enamorada, Damiana, moça velha, forte candidata a tornar-se solícita[1] titia.
– Claro! – É a resposta de Joaquim, homem casado, mas temperado com os fios da expansividade[2].
– Não entendo o porquê. – insiste a pudica[3] senhorita.
– Se as pretensões mudaram, os comportamentos também mudam, não parece óbvio?
– Mudaríamos de qualquer forma, não acha? Refiro-me a ter mudado comigo, sem razões aparentes.
– Verdade! Viver é mudar. Até na morte nos modificamos. Somos pó e a ele retornaremos.
– Então ficará a indiferença?
– É que você não percebeu a diferença. Não há (in)diferença; diferença, sim! Antes eu buscava uma achego, mas você me fechou a porta, sem abrir nenhuma janela.
– E agora?
– Agora, somos amigos e nada mais! E com amigas não sou galante. Cumpro as regras sociais de bons modos, impostas. Dou “Bom dia!”, “Boa tarde!”... E pronto!
– Entendi, finalmente.
– Que bom! A sinceridade causa natural repulsa. Pior seria se a mentira, qualquer que fosse, levasse-nos ao calabouço da desilusão. Permito-me mil recusas, mas não arredo o pé da verdade! A palavra sincera afasta, é certo. Entretanto, quem aceita o que é incerto e se permite tentar, descobre que a existência vivida é melhor que a desfalecida fuga provocada em função do medo. Ou a amizade é fruto proibido?
– Você fez sua escolha. Colha os frutos. Adeus!
Juazeiro do Norte-CE, 1º de março de 2011.
09h47min
[1] Que tem cuidado. Precavida. Cuidadosa.
[2] Caráter expansivo, franco, comunicativo, entusiasta.
[3] (latim pudicus, -a, -um, modesta, casta, virtuosa, pura). adj. Que tem pudor.