A revolta da vacina (1904)
Por: David Kooperfield
Rodrigues Alves eleito a presidente em 1902 priorizou o saneamento e a modernização do Rio de Janeiro.
Tal medida se justificava em virtude de o Brasil começar a dar sinais de esgotamento de sua República de cunho oligárquica. Naquele momento por volta de 1920, iniciava um período de industrialização para substituir as importações e produzir bens de consumo imediato, (calçados, vestimentas, alimentos, industrializados, etc.), surgiu indústria de base como siderúrgicas, fábricas de cimento e alguns tipos de máquinas.
Com o crescimento da industria ainda que incipiente acabou por acelerar crescimento das cidades entre elas: São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Paralelamente a esse crescimento os serviços públicos urbanos como tratamento de água e esgoto, eram muito precários. A expansão de favelas em volta das cidades complicava ainda mais a sobrevivência da população operária com a falta de higiene, sujeira disseminando doenças como: tuberculose, varíola, sarampo, febre tifóide etc.
A composição social agora era bastante diversificada: empresários, burguesia industrial, banqueiros, funcionários públicos, intelectuais, jornalistas, profissionais liberais, e o proletariado e setores populares.
No intuito de efetivar tais políticas de modernização como sempre se fizera no Brasil, Rodrigues Alves efetuou empréstimos no exterior no valor de R$8,5 milhões de libras esterlinas. Na seqüência deu inicio a sua política de desapropriação de cortiços, casebres, empurrando os pobres para os morros mais próximos, alegando que de lá a visão era melhor, não havia outra justificativa. Na continuidade praças, cemitérios, canais, edifícios, pontes entre outros investimentos estruturais foram modificando a paisagem urbana.
Uma dessas políticas de combate a pobres ou desculpa à epidemias era totalmente elitista, conservadora, discriminatória e abusiva. O prefeito do Rio de Janeiro um senhor chamado de pereira Passos, (devia nem citá-lo para não lhe dar créditos), chegou a proibira a circulação de mendigos e animais, (não ficou claro o que era mendigo, uma vez que a quantidade de pobres era tão grande e delicada que dificultava a distinção clara e evidente entre um pobre e um mendigo nas ruas naquele período de nossa história) para piorar, determinou visitas à domicilio onde os funcionários revistavam tudo e subtraiam o que bem achassem prejudicial a saúde. (Já pensou um equipe, digamos do PSF entrando na sua cãs e jogando seus pertences no lixo, cuspindo no chão e fazendo cara de nojo).
A política de combates às epidemias foi entregue ao médico sanitarista Oswaldo Cruz em 1904, quando fora aprovado o projeto de vacinação obrigatória, com uma série de medidas de higiene pública para se combater a febre amarela, a peste bubônica, e a varíola.
Oswaldo Cruz não perdeu tempo em 1904 coloca em prática o projeto de “vacina obrigatória” contra os brasileiros de mais de 6 meses de idade. Foi o fim. Fim do mundo. Estourou uma revolta popular em 1904chamada de Revolta da Vacina. (no império onde o pais era essencialmente agrícola, as revoltas eram por melhorias no campo, na produção e na divisão dos recursos, agora com o crescimento urbano o povo se revolta contra medidas totalitárias e mal explicadas).
Mas não se escandalize não era só as classes populares que repudiavam a obrigatoriedade da vacina, as elites também, os positivistas (que na época se achavam os donos da intelectualidade) chegaram até a fundar a “Liga Contra a Vacinação Obrigatória”, você acredita nisso?! Ainda justificavam com seus discursos aburguesados: - num regime republicano é inconcebível uma lei que fere a liberdade do próprio corpo e agora pasmem, anunciavam o direito a uma resistência armada.
Ora se a população menos esclarecida tinha dificuldade de compreender o projeto de saúde do governo (que convenhamos era muito mal elaborado e executado) imaginem agora com toda uma teorização intelectual positivista somada a iniciativa de resistência armada então seria mesmo o fim da picada.
O resultado foi o óbvio, durante mais de uma semana tivemos conflitos entre população e a policia nas ruas, com direito a todo tipo de aberração desnecessária, brigas corporais (de rua), barricadas, quebra-quebras. O governo como ainda hoje tratou o caso como caso de polícia. Prendeu mais de 1.000 pessoas e até deportou gente para o território do Acre, bem ai, ainda não era nem estado.
De um lado a grosseria impositiva de um governo autoritário e discriminador, de outro uma população desinformada assessorada por uma elite deslumbrada. Será se hoje ainda acontece esse tipo de coisa?