A Loucura Humana
Conversava com um amigo que compartilha comigo dos ideais revolucionários e “contraventores” ou idealistas ingênuos, já que diante dessa sociedade “racionalista”, quem pensa diferente, quem fala de solidariedade, de igualdade e outros valores afins, é taxado de idealista, utópico, ou coisa do tipo, no mau sentido dessas palavras. Mas, como ia dizendo, conversava com o companheiro de utopismos mais ou menos sobre essa “racionalidade” exacerbada que tomou conta de quase todo mundo. E ele dizia-me que para dar jeito nisso tudo só há uma forma: instituir a Republica do Xibiu. Eu corroboro e acrescento: República das mulheres e das crianças.
Explico. Os homens com seu desejo instintivo por sexo seriam facilmente governados pelas mulheres. Isso aliado à humanidade, à força, à serenidade, à tolerância, ao amor, inerentes à alma feminina seria suficiente para deixar este mundo melhor e mais sensato. O grande desafio é fazer as mulheres descobrirem o poder que têm, pois apesar das conquistas que fizeram, da repressão que sofreram durante séculos, ainda não foi totalmente superada.
A Republica do Xibiu só não seria perfeita porque lhe faltaria uma característica de fundamental importância que seria a pureza de espírito para governar – não confundir com ingenuidade – que confere justiça às decisões de como alocar a riqueza produzida pela sociedade. E esta peculiaridade encontra-se especificamente nas crianças. A despeito de toda a influencia ruim do mundo adulto sobre as crianças, elas ainda guardam uma alma pura.
Mas por que estou escrevendo essas asneiras? Será por que sou um pobre proletário fodido que nunca sairá desta condição por que a sociedade do capital não tem lugar para esse tipo de gente? Pode ser por isso. Mas é também porque não concebo as loucuras desta “humanidade pós-moderna”. Humanidade questionável, diga-se, pois entendendo humanidade como sinônimo de sensibilidade, tolerância, solidariedade, estamos cada vez mais distante do ideal de humanidade.
Como pensar em humanidade em nossa cidade, por exemplo, onde não existem industrias que realmente gerem riquezas, há apenas algumas fabricas que apenas expropriam os trabalhadores. E grande parte da população vive em extrema pobreza, a economia cacaueira está em crise a pelo menos vinte anos e não gera mais o excedente que outrora gerou. E no entanto existe uma pequena casta de ricos que desfilam em carrões novos e viajam à Europa. Onde está a humanidade?!
Presenciei um dialogo dos mais profundo e significantes que já vi. Foi entre minha sobrinha de quatro anos de idade e uma cliente da mãe dela. Ela muito perspicaz, observou que o rapaz tinha chegado num carro diferente do que ela tinha visto no dia anterior. E o dialogo começou, desinteressante e meio débio, como a maioria das conversas entre criança e adultos. E ela:
- Você tem dois carros é?
- Éeeeeee!!
- Pra que?!
Ele embasbacado, apenas riu e nada mais disse. Assim como aquele homem, está a sociedade, consumindo sem saber porque ou para que, com os sentidos voltados para os próprios umbigos, caminhando sem um propósito maior do que resolver seus próprios problemas imediatos. Andam como disse o sarcástico Tom Zé, com zumbis sem sepulturas