“Ei ‘vei’, espere aí”.
Ontem estava indo ao colégio D. Ceslau dar a minha contribuição social, por que como dizia o saudoso Luiz Gonzaga, “eu também sou responsável”. Quando me aproximava do colégio, de longe avistei um grupo de policiais fazendo o que eles denominam procedimento de rotina: uma revista grosseira e humilhante que só serve para constranger as pessoas que passam por ela. Como quem não deve não teme, fui passando despreocupadamente pelo movimento. Mas antes que eu chegasse perto do local onde ocorria a famigerada revista, escutei uma voz grosseira e truculenta que gritava: “ei ‘vei’, espere aí”. Era um policial que fazia a retaguarda dos comparsas. Levei um grande susto e pelo tom de voz do “macaco”, pensei que ele fosse abrir fogo naquele mesmo momento com sua amedrontadora metralha.
E era dessa forma que o PM “alertava” os passantes que inadvertidamente se aproximavam do circo armado por eles no meio da rua, mostrando toda estupidez, brutalidade e despreparo para lidar com pessoas. E o que é pior, pessoas que pagam o salário dele.
Nunca gostei de policiais e de policia de modo geral, mesmo antes de ser politizado e de ter uma ideologia. Sempre tive medo de policia e sempre achei, e continuo achando, que policia só serve para reprimir as pessoas. É o braço armado do Estado para manter o povo devidamente acomodado nos guetos. Se a televisão mediocrisa e idiotiza o povo, deixando-o cada vez mais ignorante e passivo, a policia completa o trabalho impondo medo, insegurança e, às vezes, eliminando os que de forma consciente ou não, se revoltam contra o Estado.
Quem duvida do que digo basta fazer uma retrospectiva, e nem é necessário ir até a idade média quando surgiu a semente das policias que eram as milícias pessoais dos reis e serviam para reprimir o povo que começava a se revoltar com a situação de servidão em que viviam. Para comprovar o que digo basta voltar a uns dez ou quinze anos e então se lembrara do que fez a policia aos índios (abril de 2000) que faziam (ou quiseram fazer) protesto em plena comemoração dos quinhentos anos do achamento do Brasil, em Porto Seguro. Vai se lembrar também do massacre de Eldorado dos Carajás, no Para (abril de 1996) quando dezenove trabalhadores sem terra foram assassinados por policiais militares. Lembrar-se-á também de Corumbiara em Rondônia (1995) quando dez trabalhadores também foram mortos pela polícia. E por fim, quem fizer esse exercício histórico, vai lembrar-se do massacre do Carandiru onde 111 presos foram covardemente assassinados pela policia mesmo depois de terem se rendido e ponto fim à rebelião. Esses são apenas alguns exemplos que mostram qual a verdadeira utilidade da policia.
Recentemente tentei mudar esse meu ponto de vista por conta da entrada de um grande amigo para a policia militar. Pensei: pôxa deve haver muitos outros policiais iguais ao meu amigo na policia, gente séria, incorruptível, humanitárias incapaz de fazer mal a uma mosca. E por existir gente assim na PM não seria justo condenar toda a instituição. Porém, percebi um comportamento diferente neste meu amigo depois que ele virou policial. Outro dia sobe que num dos seus primeiros dias de trabalho em publico ele quebrou o braço de um cara que brigava com a namorada ou com a esposa, não tenho certeza. Aí foi o fim. Tive a convicção de que não gosto de policia. Apesar de saber que existem policiais que são sérios, honestos, humanos, como este meu amigo, vou continuar querendo distância da polícia.
Mas continuo amando e meu amigo, pois sei que ele não tem culpa de viver num país que não dá oportunidade a jovens recém saídos da universidade. Ele não é culpado de viver num país que gasta seis milhões de reais com pagamento de horas extras a funcionários do senado em pleno período de recesso. Ele não tem culpa de viver num país de desempregados, de termos um salário que não paga sequer as despesas mensais de um pitbul de um playboy bombado. Ele não tem culpa se o Estado não lhe ofereceu nada melhor que o salário de 1,5 mil reais por mês. Ele não é culpado de esta estrutura toda o levar a prestar concurso para a Policia Militar.
Quanto ao policial truculento, espero que nenhum pobre coitado viciado tenha caído na sua mão, por que pela raiva que ele estava, seria capaz de causar muito mal se alguém lhe desse um motivo, por menor que fosse.