Cuidado com o que se deseja
Ouvi ou li não me lembro onde nem quando, que devemos ter cuidado com o que desejamos, pois boa parte dos desejos, se desejados com fervor acabam por se tornarem realidade. É obvio que não me refiro apenas a desejos materiais, que dependem mais de outros fatores do que de nossa vontade. Refiro-me principalmente aos desejos, digamos imateriais. Explico.
Quando estava morando na Bahia sentia uma vontade colossal de partir, conhecer outros ares e lugares. Achava que a causa das minhas desventuras era o lugar medíocre onde eu vivia. Eu sempre pensava e dizia que gostaria de ser um cidadão “do mundo”, não ter pouso certo, não fixar raízes em lugar algum. E desejava isso com extraordinária convicção! Desejei com tanta fé que o desejo tornou-se realidade. Eu estava tão certo de que seria mais feliz longe de Itabuna que não titubeei em aceitar o convite para trabalhar em Uberaba.
Então, com apenas um mês longe de casa percebi que ser “cidadão do mundo” não é tão fácil como eu imaginava, ao menos para mim não está sendo fácil. Para ser um “cidadão do mundo” necessita-se ter espírito livre, não ter apegos sentimentais e fundamentalmente materiais.
Longe de Itabuna a cinco meses percebo que estou muito longe também de ser um espírito livre e que tenho muitos apegos, logo estou assaz distante de ser um cidadão do mundo.
Contudo, mesmo após esta constatação, ainda não me sinto realizado aqui, continuo com o desejo de partir, porem não partir para outra cidade, outro estado, pois sei que não encontrarei o que procuro onde quer que eu vá. Essa experiência que estou vivendo me fez refletir e perceber que a viagem, a busca que devo empreender, não é para outra cidade, estado, país ou qualquer lugar. Essa procura deve ser interna, dentro de mim, do meu espírito, de minha consciência. Talvez dessa forma encontrarei o que procuro. Portanto, aprendi que partindo para outro lugar não encontrarei a paz e tranqüilidade que almejo.
Nunca planejei morar em Minas Gerais ou em qualquer outro estado, mas desejava ardentemente sair de Itabuna. E quando surgiu a oportunidade, não vacilei, parti. E já durante os preparativos da partida percebia que não seria fácil deixar para trás esposa, família, amigos, ainda que estivesse profundamente insatisfeito com a vida que levava. E agora, após “longos” e dolorosos cinco meses da partida continuo insatisfeito.
Entretanto, a lição foi aprendida, terei bastante cuidado com o que vou desejar daqui para frente. Aprendi também que muitas das buscas que realizamos tentando encontrar felicidade, buscamos nos lugares errados. As pessoas, com raras exceções, costumam terceirizar a felicidade (e eu não sou exceção), depositam a responsabilidade de sua própria felicidade em coisas externas, quando deveriam buscar dentro de si mesmas. Basta apenas nos desligarmos, desligar a TV, o rádio, o computador, o MP3 e mergulharmos dentro de nós, de nossa alma, dessa forma talvez encontremos algo surpreendente que possamos chamar de felicidade.