O OTIMISMO

O OTIMISMO

Francisco Obery Rodrigues

Certa vez, numa consulta, a minha geriatra, surpreendentemente, perguntou-me se eu era otimista. A indagação imprevista me deixou desorientado. Fechei os olhos, concentrei-me durante alguns segundos, para refletir sobre o que diria. Aos oitenta e seis anos, hipertenso, com três “stents” implantados nas coronárias, além do mais com sérios problemas de saúde na pessoa a quem mais quero no mundo e com a qual convivo já há 64 anos; e ainda mais vivendo a solidão da ausência da maioria dos amigos da minha geração, que já partiram; ponderando tudo isso, respondi: olha, doutora, eu posso dizer que sou um homem feliz, pois Deus me tem cumulado de bens (ótimos pais, irmãos, um excelente emprego aos 19 anos,o casamento aos 22 anos, onze filhos normais, formados e inteligentes, dezessete netos, oito dos quais já com curso superior e quatro prestes a se formarem, sete bisnetos, além dos genros e noras com os quais me dou bem, mas reluto em afirmar, a esta altura da vida, que sou um otimista. Sempre fui uma pessoa muito sentimental e sempre centrada, talvez excessivamente, na realidade da vida. A ponto de, certa vez, isso há mais de cinquenta anos, também numa consulta médica com o Dr. Raul Fernandes, de passagem por Mossoró, depois de conversarmos bastante, ele me dizer que eu era uma pessoa com “exagerada noção de responsabilidade”; que eu deveria encarar os meus compromissos profissionais, sociais e familiares com mais moderação. Uns vinte anos depois, quando, estando em Caruaru, procurei o Dr. Djalma Vasconcelos, em Recife, para receitar-me de um distúrbio que, havia algum tempo, vinha incomodando-me. Após todos os exames, a conclusão: estresse, era a causa de tudo. E recebi igual conselho. Mesmo encontrando-me hoje aposentado – e já faz mais de trinta anos, e muita coisa tenha mudado em minha vida, ainda sou a mesma pessoa, com o mesmo temperamento e os mesmos sentimentos. Certas características genéticas são difíceis de mudar.

No meu entendimento, Otimismo é a convicção de alcançar o que almejamos, de concretizar os nossos sonhos. Entre os filósofos consultados, a cujos ensinamentos recorri, buscando uma orientação, pareceram-me controversos os conceitos. Já a Esperança, é uma emoção que alimenta nosso espírito, aquela vontade, que se abriga em nossa alma, de conseguirmos realizar os nossos ideais. Admito que, quando fui moço, alimentei vários sonhos e alguns consegui alcançá-los, talvez até não imaginados nas minhas fantasias adolescentes. Mas não sei se posso afirmar ter sido um otimista, talvez um “visionário”. Já adulto, na vida profissional, tive Aspirações, alimentadas pela Esperança, e procurei tornar-me capaz e digno de alcança-las. Fazendo um retrospecto de minha vida, da infância até hoje, se experimentei algum episódio ou alguma fase de dificuldades, o que suponho que todas as pessoas tenham conhecido, Deus me, porém, ajudou-me a superá-las.

Assim, não me sentindo, a esta altura, capaz de alimentar um sentimento de Otimismo, não possuo mais a coragem de dizer que o sou, de ainda ser capaz de fazer projetos para o futuro. Sei quão poderoso e benéfico à nossa vida é o Otimismo. No meu caso, creio que especialmente a FÉ; pois, no meu entendimento, ela, a FÉ, é uma forma espiritualizada, divinizada, do Otimismo. A FÉ, é que me tem dado ânimo e coragem para enfrentar toda esta já longa Vida com os problemas que lhe são inerentes. A FÉ na bondade de Deus é o sentimento que mora e alimenta o meu espírito e norteia o meu pensamento. Aliás, é significativo que na Bíblia Sagrada, em suas mais de 2.000 páginas (conforme a edição), que em todo o seu texto não haja uma só referência à expressão OTIMISMO, enquanto a ESPERANÇA é citada mais de sessenta vezes e a FÉ (dom capaz de remover montanhas e condição indispensável para a salvação de nossas almas), é referida em milhares de ocasiões. A Fé, a Esperança e a Caridade são consideradas pela Igreja Católica como as três Virtudes Teologais)

Constantemente, recebo, pela internet, mensagens de otimismo dizendo, em resumo, o seguinte: ”acorde, olha para o céu, veja a aurora, o Sol iluminando a Terra, as flores se abrindo para receber os benefícios do calor e da luz; os pássaros, alegres, cantando e saudando o novo dia; receba-o, pois, com alegria e com otimismo.” E eu fico a refletir: como é fácil, assim, ser otimista! Sei que Deus fez o homem para ser feliz, mas acho que cabe a cada pessoa pode construir a sua Felicidade aqui na Terrra, a seu modo, embora, às vezes, necessite de alguma ajuda ou solidariedade..

Houve um tempo em Natal, em que, antes das cinco horas da manhã, eu e Brasília já estávamos prontos para caminhar. Agora, os médicos ainda me dizem que eu preciso caminhar. Quantas vezes acordo cedo e penso mesmo em dar algumas voltas. Mas... necessito de um acompanhante. Por outro lado, cadê a disposição, se eu tenho uma insônia crônica e até resistente aos medicamentos;, se sou um hipertenso há muitos anos, se o médico atestou que eu tinha uma cardiopatia grave? Por esses e outros motivos, já na casa dos 86 anos, não sei se é aconselhável caminhar só, e quando eventualmente o faço sem a companhia de Brasília, sinto a sua falta. Já fui otimista, já sonhei muito e fiz muitos projetos, alguns dos quais, repito, consegui realizar. Mas, hoje, quais os sonhos ou projetos que posso alimentar.

Joseph Joubert (pensador francês-1754/1824), afirma que “a esperança é um preço que se pede à felicidade”. Deus concedeu-me uma boa memória e esta longevidade e delas tenho me servido para cultuar as figuras do passado que foram exemplo de coragem, de fé e de caráter, e rememorar alguns episódios do passado que possam ter validade para a história da terra onde nasci e vivi quase meio século.

Pois é, a indagação da minha geriatra ainda repercute em meu espírito.

Obery Rodrigues
Enviado por Obery Rodrigues em 11/02/2011
Código do texto: T2785653