“Vendo, mas não chupo”
Ouvi a frase acima de um vendedor ambulante que vendia morangos. Ele a disse quando foi questionado pela “freguesa” se os morangos eram doces. A resposta foi direta e verdadeira: “sei não senhora, vendo, mas não chupo”.
Conto essa historia por que ela representa com certa fidelidade a situação do trabalhador, não só brasileiro, mas a dos de outros paises também. Quantos trabalhadores da Nike conseguem comprar um tênis Nike? Quantos operários da construção civil conseguem comprar um daqueles apartamentos que constroem? Eu diria que poucos ou quase nenhum. Isso pode parecer corriqueiro, mas não é. É sim um certo paradoxo, uma grande contradição! Pois se são os trabalhadores que geram as riquezas, nada mais justo que eles possam desfrutar dessas riquezas.
Entretanto, as coisas não são tão simplórias assim. O ser humano com toda sua criatividade inventou também a desigualdade, as diferenças de classes, onde o fato de um “sortudo” possuir capital lhe permite explorar o trabalho do “azarado” que não tem. E mais, privá-lo do resultado do seu trabalho.
Mas não é apenas do fruto do seu trabalho que o trabalhador é privado. Privam-lhe até mesmo da capacidade de refletir sobre sua condição de excluído dos bens que produzem. Retiram-lhe também o direito ao lazer. E despojam-lhes principalmente do capital, pois do contrário o jogo se inverteria.
E já é mais do que chegada a hora do jogo se inverter, pois em toda a história das sociedades humanas os que trabalham, que produzem, os que põem as mãos e os pés na massa sempre foram despojados das riquezas que produzem. Então está mais do que na hora de o trabalhador não só “vender, mas também chupar”.