O FUNDO DO POÇO NÃO É O FIM!
Uma força estranha, magnética,empurra-me para uma direção que não estava nos meus planos. Olho em volta e não reconheço o ambiente no qual estou inserido. Levanto a cabeça e uma placa - escrita com letras tortas - chama a minha atenção. Leio-a, involuntariamente: "Bar dos Aflitos". E, de repente, já me encontro dentro do bar. Meus olhos tentam se acostumar à penumbra; minhas narinas tentam suportar o cheiro forte de urina e álcool que as invadem, impiedosamente.
De repente, num canto escuro, uma figura cabisbaixa chama a minha atenção. Apesar de não enxergar com nitidez, julgo reconhecer aquela silhueta, curvada sobre a mesa e - agora já posso ver - tendo um copo de cerveja, pela metade, à sua frente. Aproximo e as dúvidas se dissipam.
- Euclides, o que houve? Que tristeza é essa? Por acaso o mundo acabou e não me contaram? - pergunto, colocando a mão esquerda sobre o seu ombro direito.
- O meu mundo acabou, Alexandre! - ele fala, sem se dar nem mesmo o cuidado de levantar a cabeça.
- O mundo de alguém só termina dois minutos após a sua morte... - digo, tentando elevar-lhe a auto-estima. - E, pelo que pude perceber, você está vivinho da silva!
- Eu estou no fundo do poço! - ele diz, e pela primeira vez levanta a cabeça e eu percebo todo o sofrimento que fixou residência naquele rosto, percebo os olhos molhados, o caminho traçado pelas lágrimas...
- Euclides, o fundo do poço não é o fim; é o recomeço de uma nova vida! - digo, sorriso no rosto, luz no olhar, entusiasmo na voz.
- Como não é o fim? - a voz é sofrida, mas o interesse repentino me revigora.
- Euclides, escute com atenção! - sinto que chegou o momento de trazê-lo de volta à vida. É agora ou nunca, penso. - Você disse que se encontra no fundo do poço, certo? - e diante do seu aceno de cabeça, prossigo. - Pois bem, se você já está no fundo do poço, nada mais pode piorar em sua vida. Não tem mais como descer, meu amigo! O pior já aconteceu! Agora... você só pode subir! Concorda comigo?
Euclides sorri, encabulado. Seus olhos adquirem um novo brilho.
- Alexandre, você tem razão! Eu não havia pensado nisso...
- Vamos fazer um brinde à vida? - proponho, entusiasmado.
- Vamos! - e, virando-se para o dono do bar, pede com uma voz que mais se parece com um trovão. - Ei, Lucas, traga mais uma cerveja e dois copos!
- Um copo! - corrijo, e abaixando a voz, digo para ele. - Você já tem o seu.
- Lucas, são dois copos! - diz ele, ignorando a minha correção.
E quando chega a cerveja e os copos, Euclides enche os três copos, faz um brinde comigo, pega o terceiro copo, eleva-o e voltando-se em direção à porta, diz:
- Ei, você! Você mesmo, que está no fundo do poço! Venha pra cá! Nós temos motivos de sobra pra comemorar!
E sorri o mais belo dos sorrisos...