Saudades de mim 8. Imigrantes.

Meus avós paternos vieram da Itália após a primeira guerra mundial. Meu avô lutou no exército italiano, foi aprisionado pelos alemães e trabalhou como padeiro até ser libertado no final da guerra, e quando voltou ao seu vilarejo natal não havia mais casas, só escombros. Não havia ninguém lá. Todos tinham fugido e estavam dispersos e muitos sem ter notícias de familiares. Com o fim da guerra o governo italiano construiu novas casas e as famílias foram voltando e se reencontrando e pra tristeza de meu avô ele descobriu que a noiva que ele deixara com promessas de casamento havia se casado com outro, então ele conheceu a irmã mais nova da dela, uma linda moça de olhos azuis como o céu, que na época que ele havia ingressado no exército era apenas uma menina magricela e de tranças e essa foi minha avó, pois meu avô acabou se casando com ela. Vi fotos deles da época, vestidos com esmêro, ele de terno e chapéu, eram fotos lindas, em preto e branco, pareciam artistas de cinema!

Depois da guerra a vida estava muito difícil lá na Itália e ouviam falar das maravilhas da América. Dizia-se que quem estivesse disposto a trabalhar, lá era um lugar de grandes oportunidades. Podia-se até ficar rico! Então meus avós que já estavam casados e com dois filhos pequenos se aventuraram com alguns parentes e deixaram a terra natal para nunca mais voltarem. Vieram para o Brasil! Foi uma longa viagem, quase dois meses de navio, em classe econômica, paga pelos contratantes brasileiros. Tiveram muitas dificuldades e enfermidades a bórdo onde perderam o filho mais velho, com dois anos de idade e o outro também estava enfermo. Aí começou a desventura deles ao verem ser jogado no mar o corpinho do primigênito. Chegando ao porto de Santos foram direto para a Santa Casa com o filho doente e quando ele teve alta médica seguiram para São paulo, onde ficaram hospedados na Casa do Imigrante até serem levados de trem para o Interior para trabalharem em grandes fazendas de café. Foi muito difícil para eles. Não conheciam a língua, os costumes e o clima eram diferentes, nunca tinham visto um pé de café. Lá na Itália eles cultivavam trigo, uva e milho e o café da manhã deles lá, era pão com vinho fabricado por eles mesmos. Tão diferente do cafézinho brasileiro!

Foram alojados em moradias precárias de pau a pique, suportaram o clima, adaptaram-se a comidas tão diferentes e começaram então a trabalhar duro na esperança de ganhar dinheiro, fazer um "pé de meia" e voltarem para a terra natal de onde já se arrependiam de ter saído, mas o dinheiro era pouco, a cada ano nascia mais um filho e nunca conseguiram juntar dinheiro suficiente para voltarem, pois o que eles ganhavam mal dava para pagar a venda onde compravam fiado o ano todo, nunca sobrava nada. Com o passar do tempo eles se acostumaram, criaram os filhos, nasceram-lhes os netos, bisnetos e nunca mais viram os familiares deixados na Itália, no começo ainda comunicavam-se por cartas, que com o tempo foram rareando, até deixarem de vir e eles de mandar. Hoje estão enterrados em solo brasileiro, terra que eles sonharam que daria o passaporte de volta para os seus e ´só receberam um túmulo raso. Eu faço parte dessa história.

Madaja Dibithi
Enviado por Madaja Dibithi em 23/01/2011
Reeditado em 06/02/2011
Código do texto: T2747417
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