Ron Wood, o segundo guitarrista dos Rolling Stones está namorando uma brasileira conforme entrevista dada por ela na última Veja.

Ela tem trinta anos e ele sessenta e três e perguntada de como divisou, naquele mar de rugas, o homem da sua vida, ela respondeu:

“Eu fui apresentada por um amigo em uma boate de Londres, onde estava fazendo um curso. Eu nem sabia quem era Ron Wood. Naquela noite, vi nos olhos dele muita tristeza, um vazio.

E por que ele era tão triste?

“Porque vinha de mais de quarenta anos de festa, sexo, drogas e rock”n”roll. E isso o consumiu. Desde que estamos juntos, ele nunca mais bebeu nem usou drogas.

A entrevista tinha um tom satírico, até maldoso, da repórter, mas a moça se saiu muito bem nas respostas.

Eu entendo muito bem o que ela divisou em Ron Wood, pois foi isto que a minha esposa, que era minha cliente, divisou em mim quando me encontrou uma vez numa concessionária.

Eu estava saindo de um casamento de dez anos que tinha me tirado, por este período, de qualquer vida noturna, ambiente onde fui criado desde o inicio da minha adolescência. E eu sabia que a saída por mim desejada deste casamento, iria me mandar de volta para o único lugar onde eu sabia conviver, ou seja, na noite, com as suas luzes fugazes e suas mariposas.

Eu estava muito mal naquele período, pois sabia que não poderia continuar naquele casamento que foi muito útil, tanto para mim como para a minha companheira, mas continuando nele eu não superaria os fantasmas que tinham ficado dormindo enquanto fiquei com ela e que estavam começando a dar o ar da sua graça.

Na “noite” você não aprende a namorar. Cada noite é um nova noite e você age como um predador, como você pensa que é, mas, na realidade, quem está sendo “depredado” é você, e a partir da hora que você “saca” isso, você vai ver que é e sempre foi a pessoa mais sozinha deste mundo, apesar da multidão que sempre teve à sua volta.

Você se tornou um prisioneiro dos teus hábitos e leva uma vida que aos olhos dos teus amigos não poderia ser melhor. Você é invejado por todos que possuem uma vida normal, com família, filhos, almoço de domingo, já que vêem em você a liberdade que gostariam de ter.

E eles nem imaginam de como você gostaria de ter a vida que eles possuem, a partir de um momento, mas que não sabe mais como conseguir.

Você viveu à parte, em um mundo acelerado, impôs um ritmo acelerado, e depois vai ralar muito para se adaptar à vida normal que é onde está a verdadeira vida.

Você só aprendeu o que Ron Wood aprendeu, ou seja, vida de festa e noitadas e você não sabe mais ter uma vida normal. Você não sabe mais como entrar nesta vida do dia a dia, mas vai se enganando enquanto dá, até que a casa cai, assim como caiu para mim e parece que agora está caindo para o Ron Wood.

Você vai se enganando e nem tem consciência, pois tudo a tua volta mostra, pela inveja dos outros e pelas mulheres que você atrai que a tua vida parece ser a melhor, mas se eles soubessem! E esta falacia vai te mantendo.

Conhecia tudo de sobrevivência na noite, mas era incapaz de convidar uma moça, com vida familiar e normal para almoçar no domingo. Não tinha a vivência e isto fazia muita falta.

Você passa a ser escravo da imagem que criou, ou melhor, passa a ser a própria imagem, em carne e osso, e não sabe mais ser diferente, não conhece mais o teu próprio "eu", e isto vai desabar um dia.

Eu entendo o olhar que a brasileira viu no astro famoso, pois foi o que a minha esposa viu e comentou com a sua mãe “que nunca tinha visto ninguém com um olhar tão triste”.

Eu já estava prestes a me separar, neste dia, pois também não estava feliz na relação, mas sabia o que eu iria encontrar com a separação: solidão total e sem nenhuma articulação para reverter esta situação.

Quando eu estava quase beirando a loucura, felizmente “as ajudas sempre vem”, cai no consultório de um terapeuta indicado por um amigo que estava com crises de pânico.

A minha turma estava toda desmoronando, assim como o astro do rock.

Com este terapeuta, que me ganhou por não ser só um teórico, mas uma pessoa que tinha muito mais bagagem de vida do que eu, eu tive, “como receita médica”, de conhecer pelo menos uma moça por dia, não importa que não sentisse vontade, e além de não poder ter sexo com elas, teria que convidar sempre alguma para almoçar nos domingos, ir ao cinema, ou para jantar no sábado. Eu não podia era ficar sozinho e não podia ser sempre a mesma.

E eu aprendi a ver como as mulheres são interessantes, alegres, afetivas, amigas e companheiras. Eu me abria com elas, dizia nas conversas que estava em tratamento e muitas se tornavam cúmplice do terapeuta e outras ferrenhas inimigas dele.

“Sair só para bater papo” e eu que já estava com meus quarenta anos aprendi a namorar, sair e passear de mãos dadas, coisas que nunca tinha feito. Viver à luz do sol, naturalmente sem nenhuma fuga; como você é na realidade; uma pessoa como outra qualquer; com as suas deficiências, suas carências, seus limites, sua timidez, seus medos e não ter vergonha nenhuma disto e até aprender a dar risada disso tudo, o que é muito gostoso e libertador.

E a falta destas vivências que deveriam irem sendo aprendidas desde a adolescência, te pega lá na frente, não importa a idade e te desmorona e você vai ver de como você é só, muito só, e caindo a resistência você vai se sentir desesperançado e terrivelmente triste.

Uma tristeza que não dá para dimensionar, nem como comparar com qualquer outra, pois você tem a ciência que é impotente para superarará-la. Só com a ajuda de alguém muito especial e com muita vontade de se superar para conseguir renascer das cinzas.

E entre diversas moças que eu convidava para sair, conforme a receita médica, acabei um dia convidando a minha cliente, que um dia tinha dito "que nunca tinha visto alguém com um olhar tão triste" e acabamos casando, sem antes termos tido, claro, um bom período de namoro, com direito a muitas comidinhas nos finais de semana.

Eu entendo o que a brasileira viu em Ron Wood, pois este sofrimento não é suprido por nada daquilo que ele sempre teve e nem por dinheiro nenhum do mundo.

Vai ter que aprender a se abrir, a ser amigo da feminilidade e deixar para trás o mundo só das aparências e das falsas conquistas.

Bem vindo, Ron Wood, ao mundo das pessoas normais.
 
 
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"Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de sí mesmo' Roselis von Sass -
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