“Controlando/a minha maluquez/misturada/com minha lucidez...”
Raul Seixas
Laboratório existencial
O melhor laboratório de um psicólogo é a rua.
Na rua, vêem-se gente pobre, rica, neurótica, psicótica, triste, alegre, com pressa, descansada.
Na rua, vêem-se pessoas soltas, sem gestos estudados, livres de olhares de observação direta.
Hoje estive a observar as pessoas na sua corrida da vida. Detalhes que passam despercebidos quando estamos a caminho do trabalho, da escola, do dentista.
Hoje eu vi poesia no olhar de crianças, vi carência no olhar de idosos, sonho no olhar de adolescentes.
Hoje eu pude até me ver melhor - analisar a minha luta diária pela sobrevivência, o meu corre-corre controlado por uma máquina, a falta de tempo para mim.
Me percebi humana, olhando as pessoas como gente, não como obstáculos do meu caminho, da minha pressa.
E hoje vi que sou tão carente, tão triste, tão alegre, tão solta, tão neurótica quanto todos aqueles que observei. E assim constato que faço parte desse laboratório e sou objeto de observação para outro psicólogo.
Abril/1980
Essa crônica foi postada para o meu mais novo leitor, Dilermando Cardoso - brincalhão incorrigível - sempre afirmando que tem medo das psicólogas, que elas são “leitoras de alma” e que com elas, todo cuidado é pouco.
Foi escrita em 1980 e seu último parágrafo continua atual, embora eu tenha 33 de formada.
Raul Seixas
Laboratório existencial
O melhor laboratório de um psicólogo é a rua.
Na rua, vêem-se gente pobre, rica, neurótica, psicótica, triste, alegre, com pressa, descansada.
Na rua, vêem-se pessoas soltas, sem gestos estudados, livres de olhares de observação direta.
Hoje estive a observar as pessoas na sua corrida da vida. Detalhes que passam despercebidos quando estamos a caminho do trabalho, da escola, do dentista.
Hoje eu vi poesia no olhar de crianças, vi carência no olhar de idosos, sonho no olhar de adolescentes.
Hoje eu pude até me ver melhor - analisar a minha luta diária pela sobrevivência, o meu corre-corre controlado por uma máquina, a falta de tempo para mim.
Me percebi humana, olhando as pessoas como gente, não como obstáculos do meu caminho, da minha pressa.
E hoje vi que sou tão carente, tão triste, tão alegre, tão solta, tão neurótica quanto todos aqueles que observei. E assim constato que faço parte desse laboratório e sou objeto de observação para outro psicólogo.
Abril/1980
Essa crônica foi postada para o meu mais novo leitor, Dilermando Cardoso - brincalhão incorrigível - sempre afirmando que tem medo das psicólogas, que elas são “leitoras de alma” e que com elas, todo cuidado é pouco.
Foi escrita em 1980 e seu último parágrafo continua atual, embora eu tenha 33 de formada.