Vestibular para Santa I I



Evaldo da Veiga


Ela queria ir para o Céu, mas caminhava em sentido contrário...

Ele chega a casa no início da noite e, sobre a cômoda, um envelope azul. Não precisou virar o envelope para identificar a remetente, a letra era inconfundível, aquela que era usada com percuciente esmero nos trabalhos escolares ou nas mensagens que Ela considerava importantes.
Aos 24 anos Ele fora Professor do ensino Secundário, o que significa hoje secundo grau, e lecionava em três colégios; no turno da noite, lecionava no colégio que ela estudava, e nesse colégio era coordenador. Ela, na época, era funcionário estatal, era casada e tinha um filho com um ano de idade. Havia iniciado a vida de casada fazia pouco, e de amante neste episódio.
A carta foi enviada no dia 22, de Icaraí para Pendotiba, na mesma cidade, distando não mais que de 5 km, mas custou a chegar. Não deveria ter chegado nunca.
Já não se viam há mais de 25 anos e o desfecho do primeiro ciclo de convivência foi uma ruptura desastrosa, que deixou seqüelas emocionais que os longos anos esmaeceram, mas a nova ruptura reavivou-as, tornando-as irreversíveis.
A carta eivada de equilíbrio, surpreendia, favoravelmente, em todos os sentidos. Porém, um trecho era sobremaneira relevante, fugindo de caráter de péssimo para o admirável.

Dizia Ela:- “a vida durante esses tantos anos me deu e me tirou muitas coisas: algumas boas e outras não tão boas. Pude aprender integralmente que em todo o relacionamento, sejam de amizade ou de homem/mulher, o que deve prevalecer é sempre a verdade, sem a verdade nada pode ser construído, nem o que parece aos olhos de ser uma enorme fortaleza. Tudo isso foi você quem me ensinou, espero que não tenhas perdido essa maior e melhor qualidade que um ser humano pode ter”.
E Ele acreditou. Sentiu que Ela havia se modificado. Errou na crença e se machucou, um tanto mais que no primeiro relacionamento.


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