No Brasil, o futebol é mais sério que a política
Há umas poucas semanas, o Brasil inteiro criticou o aumento de salário para deputados federais e estaduais. Tiririca, por exemplo, ganhará R$ 26 mil para desempenhar a função para a qual obteve sua estrondosa votação. No RS, o salário dos deputados estaduais encostará nos R$ 20 mil. E ninguém ficou feliz com isso. Afinal, todos concordam que os políticos já possuem benefícios demais para representar um povo que tem benefícios de menos. E, considerando que um universo tão grande de pessoas tenha ajudado a eleger Tiririca, é possível acreditar que a política não é levada tão à sério, pois se considera que um palhaço (no sentido artístico da palavra) semi-analfabeto possa desempenhar seu papel lado a lado com personalidades que se apresentam com diplomas conquistados nas mais renomadas universidades.
Na semana passada, três grandes clubes de futebol disputavam o passe de Ronaldinho Gaúcho. Lá estavam o Grêmio, o Palmeiras e o Flamengo dando lances no leilão do Assis. Quem desse mais, levava. E os respectivos torcedores de cada clube na expectativa de ver o craque ser contratado. O Grêmio oferece R$ 300 mil mensais? Ora, que o Palmeiras lhe ofereça R$ 1 milhão, então. Ah, é assim: então o Flamengo oferece R$ 1, 2 milhão. E o Corinthians também verifica o saldo na conta para ver se pode oferecer mais e entrar na disputa.
Considerando que torcedores também são eleitores, note o paradoxo: R$ 26 mil para um deputado federal representar o seu país, é um absurdo. R$ 1 milhão mensal para um jogador é um investimento justificado. A essa altura, ainda não se sabe quem levará o passe de Ronaldinho. Mas certamente o clube que levar, garantirá muita festa para a sua torcida, felizes pela contratação.
Se Tiririca ou Dilma ou Tarso ou qualquer outro não vier a cumprir seus compromissos de campanha, os torcedores (eleitores) nem se lembrarão. Mas por ter rompido sua palavra para com o Grêmio (e o Palmeiras e mais algum outro...) Ronaldinho amargará por longos anos como persona non grata. O passeio para ir votar é algo feito a cada dois anos, enquanto que o futebol é um compromisso de todas as semanas.
Eis que os brasileiros são um caso interessante a ser analisado pelo resto do planeta. Por aqui, a responsabilidade de eleger um político é desempenhada de forma descompromissada, enquanto que o futebol é uma coisa séria por demais.