Fazendo as Unhas

Tudo começou com uma olhada no espelho, que determinou o fim do cabelo.

O momento que a vaidade e o orgulho próprio são mandantes da degola a tesouradas dos fios de cabelo revolucionários, que se recusam a continuar compondo a diária procura de estar bem para o sexo oposto – ou você mesmo.

“Preciso cortar, tá foda.”. A hora do abate das madeixas é sempre sem volta. Quando essa decisão é tomada, a fome é por um lugar numa cadeira giratória com uma toalha de plástico que pouco adianta para evitar de te deixar pinicando o resto do dia.

E juntando a fome com a vontade de comer, saí no glamouroso horário de almoço da Vila Olímpia a procura de um lugar para saciar meus roncos de vaidade.

Fachada nova, recepcionista nova. Ao invés de Neide, Neusa, ou alguma variante do “Nê”, fui recebido por uma plumosa e colorida Drag Queen.

- Opa... Mudou o nome daqui?

- Mudou, querido!

O novo lugar prestava homenagem à Santíssima Trindade Musical Gay. Sentada a direita de Madonna, toda poderosa, está Rosana, com seu one hit wonder “Como uma Deusa”. E logo ao lado, a atriz e semi-travesti Cher, que emprestou o seu nome ao salão.

E é no “Salão Cher” que entram as unhas.

Nada de cabelos pelo chão, ou mulheres lado a lado com um abajour na cabeça fofocando sobre a inédita novela que acaba em casamento e é gravada no Leblon. Mas manicures. Muitas, milhares! Um batalhão delas perfiladas em suas cadeiras, lixando, pintando, esmaltando unhas de mãos e pés com separadores de madeira entre os dedos.

Um cabelo cresce, perde o corte, entra na orelha. Mas e uma unha? Unhas sujam, emprestam faixas brancas às pontas dos dedos. Mas mulheres tratam elas com o mesmo cuidado que tem com suas madeixas, com a diferença que são cuidadas semanalmente, por algo em torno de 15 reais.

Se não tiver roxo esverdeada, comprida e cheia de terra ou em carne-viva de tão roída, homens simplesmente não reparam. Melhor: não se importam.

“Eu me visto para as mulheres e me dispo para os homens”, diz a citação.

Vale quase o mesmo para as unhas femininas. Uma unha de esmalte na cor certa e uma cutícula na medida é como a lojas Marisa: de mulher para mulher. Ela completa sua beleza, mesmo que só para ela (ou elas). Um item essencial para completar uma bela roupa, para uma bela ocasião. Não existe vestido de festa chique sem unha feita antes.

Por isso, sua grande contribuição para agradar o sexo oposto está na auto-estima, no se sentir bonita, gouxtosa. A metade da receita para a irresistibilidade de uma mulher charmosa.

Homens tem poucos recursos para ficarem bonitos além do que sua mãe ou a mãe natureza lhe deram. A roupa certa, a barba, o cabelo, compondo um certo estilo. Do que os olhos vêem, limita-se a isso. O resto é combinado com seu papo, seus gostos e os demais itens de personalidade que compõe o mojo para aquela que lhe dedica algum suspiro.

Mulheres tem superfícies de pias e armários abarrotados de truques e alternativas. Decotes, estojos de maquiagem, diferenciados cortes e tratamentos de cabelo, vestidos tomara-que-caia, saias... e unhas.

Belas, reluzentes, esmaltadas e lindíssimas unhas.