Olhando tudo com olhos de adeus
Vou sentir falta...
Do cheirinho da neblina entrando pelas narinas e os rostos tão conhecidos que vou encontrando pelo caminho logo de manhã...
Muitos me sorrindo, desejando bom dia, outros apenas com um aceno breve...
Tantos que conheço tão bem, outros que apenas de se cruzar por aí... Mães de alunos da escola onde trabalho, avós, pais, tios, primos...
Crianças que já passaram por ali e que vêm ao meu encontro pra me abraçar, outras que preferem se esconder por serem tímidos demais, outros por que depois que cresceram não se importam mais em me cumprimentar...
Sentirei falta...
Todos os dias quando vou almoçar, encontro-me com a irmã da dona Odete do salão, sempre ao celular, dá uma pausa na conversa pra me cumprimentar...
O seu João sempre sentado na esquina, no banquinho de madeira improvisado levantando a mão num aceno singelo. A mãe da Jeniffer (que eu sempre esqueço o nome) esperando ela no orelhão, que acompanhado de um sorriso, diz meu nome como um “olá”... Da mãe do Paulinho sempre tão simpática, ninguém faz idéia de como ela é guerreira!
O pessoal do mercado, as crianças da rua... O Oirazil com seu nome único e sua bola de futebol, sentado no muro da sua casa... Sempre tentando se esquivar da minha brincadeira com seu nome. Esse menino sempre me faz rir por dentro e por fora!
Tantos outros nomes, tantos outros rostos, tantas vozes!
Vou sentir falta...
Até mesmo de chamar a atenção do Marquinhos depois da quinta vez que ele aperta a campainha de casa e sai correndo atrapalhando meu cochilo de domingo à tarde!
Sentirei falta de brigar com a Carla, de vez em quando e depois vê-la fazendo sinal com os dedos “pra gente ficar de bem”.
Da agitação das meninas pulando corda e cantando “Suquinho Gelado” ou da gritaria que elas fazem no meu portão pra entregar as travessuras do Marquinhos e o Adrian...
Não faço idéia se no novo bairro vou poder assistir a correria dos meninos atrás de pipas no inverno, mas sei que se tiver, não será como aqui. Duvido que existam outros meninos tão bons com a pipa como o Juninho, Eliezer e Piu.
O importante é que vou levá-los comigo de um jeito ou de outro, querendo ou não. Pois será impossível esquecer esses rostos, essas vozes, essa cantoria tão viva e mágica que esse bairro tem!