MARIA FEIJÓ.

Era o ano de 1963 quando lancei, sob os auspícios da Imprensa Oficial da Bahia, hoje Empresa Gráfica do Estado da Bahia, o livro de poemas épicos sociais Brados do Sertão. Um trabalho feliz e bem sucedido, até louvado pela imprensa e intelectuais da época.

Logo depois me aparece o amigo Eunápio Amorim, então meu colega no Ministério da Fazenda, onde defendíamos a mesa dos meninos – a escola ainda era a pública e diga-se com orgulho, muito boa, na qual os meus filhos se preparam para o vestibular à universidade também pública. Perdão para o elogio aos tempos passados que a contemporaneidade desconhece porque algum gênio mau fez apodrecer.

O Eunápio queria promover um encontro com a poetisa Maria Feijó, sua ex-colega na área do ensino então dito primário, já aí bibliotecária, com residência no Rio de Janeiro. A Maria estava em gozo de férias, de passagem para a sua encantada Alagoinhas. Conhecera o livro e queria conhecer o autor. Trazia-me um montão de poesia e pretendia publicar o seu primeiro livro. Pedia uma opinião.

Enquanto ela gozava suas férias, li todo o material. Encantaram-me a beleza e a doçura da poesia, a segurança na elaboração do texto, a expressão exata, a perfeita colocação da palavra. Não era uma estreante - dominava a língua a bem dominar. No seu retorno dei a opinião franca: o trabalho era muito bom. Demais, no conjunto, para um livro. Sempre levei em conta que poesia não se ajusta a volumes grandes. Quem lê poesia busca lazer, quer doçura, textos preferentemente curtos, palavra sonoras, música. Conjuntamente selecionamos os poemas de amor e louvação à Bahia, ou o que de mais belo nos pareceu, no momento, sobre o eterno lirismo da cidade de Tomé de Sousa. O maldito português, primeiro responsável pela doação, como brinde, de nossas terras a meia dúzia de apaniguados, soube escolher o local mais bonito da terra, pondo o Palácio do Governo e a Casa da Câmara de olhos na Bahia de Todos os Santos. E a Maria Feijó soube cantar com a maior doçura que conheço, a cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, em seu “Bahia de Todos os Meus Sonhos”. Olhe-se, ainda hoje, o retrato da Bahia de Todos os Santos para ver se há mais belo em algum lugar da terra.

Feita a seleção, ela me pediu para apresentar o livro. Peregrinamos em busca de uma editora que assumisse o trabalho. Não havia outra saída salvo a edição do autor. Deixou comigo o material. Sobre ter oferecido minha humilde palavra, fiz mais – negociei a edição com a Gráfica Nossa Senhora do Loreto. Uma produção modesta em apresentação, para reduzir o custo, mas bem trabalhada. O livro e a afinidade espiritual firmaram a amizade que durou até o seu dia final. Sempre alegre, uma doçura de pessoa, ao lado do Guaracy de Sousa Neves, seu esposo e companheiro, gentil e suave, invariavelmente pronto a prestigia-la e demonstrar afeto. A partir daí vinha, rigorosamente, lançar seus livros em Salvador e Alagoinhas. Jamais esqueceu de me avisar previamente e eu jamais deixei de ser presente. Tenho-os todos autografados com dedicatória sempre carinhosa. Em muitas destas repete a palavra “padrinho”. Orgulho-me dessa afilhada doce e carinhosa, poetisa e cronista, memorialista que alcançou a glória de ter sido bem maior que o “padrinho”. Maria Feijó foi, acima de tudo, um encanto de pessoas e um primor de amiga. Soube, só depois, que em 2001ela passara de Alagoinhas para o Rio de Janeiro em estado grave. Em seguida a notícia do falecimento. Os restos mortais foram trasladados para a terra natal – honra a Alagoinhas. Teria vindo lançar e não me chegou a notícia? Ou viria ver amigos e familiares? Não me avisou? O último autógrafo esta em “A Canção Azul do Tempo” – 1998.

Estão aqui, à minha vista, neste momento:

1 – Bahia de Todos os Meus Sonhos – 1965. “Ao grande poeta e amigo, João Justiniano da Fonseca, responsável pelo aparecimento deste livro. Toda a minha gratidão é pouca e se estende à suave e meiga. D. Alice. Com estima. Maria Feijó”.

2 - Ramalhete e Trovas – 1958. “Ao brilhante poeta de ‘Brados do Sertão’ para fugir um pouco as atribulações da Política... Procure gostar juntamente com D. Alice de seu segundo sobrinho... Maria Feijó – 17-6-68”. O segundo sobrinho referido é o Ramalhete de Trovas e eu, por azar, em razão de apelos de familiares e amigos, exercia, na oportunidade, o mandato de prefeito em Rodelas, o qual me criou calos ainda hoje visíveis e doloridos.

3 – Perfil da Bahia, 1970. “Ao meu grande e querido padrinho João Justiniano da Fonseca. Poeta inspiradíssimo, esta pequena lembrança. Maria Feijó – 8/7/70”.

4 - Duas Lendas, 1971. “Para meu querido padrinho Sr. Fonseca, ilustre poeta e minha madrinha D. Alice estas lendas. Maria Feijó – Salvador, 10-12-71”.

5 – Alecrim do Tabuleiro – 1972. Crônicas Evocativas de Alagoinhas, 1972. “Aos queridos amigos João Justiniano da Fonseca e D. Alice, toda a minha estima e solicitando ao “padrinho” reanimar-se para a peregrinação literária poética. Da amiga Maria Feijó. Salvador 6-12-72”.

6 – Discurso proferido no CENÁCULO BRASILEIRO DE LETRAS E ARTES, no dia 13 de setembro de 1969, por ocasião de sua posse na cadeira nº 54, de RAUL DE LEONI – 1972 (sem lançamento e sem dedicatória).

7 – Discurso proferido na Academia de Trova, o Rio de Janeiro no dia 29 de maio de 1972, por ocasião de sua posse na cadeira nº 14, de CASTTO ALVES. “Cecília Castro Alves Cerqueira Lia, Celestino Jacy Castro Alves Faria Santos – Rio 1973”. “Para o grande amigo e poeta J.J. da Fonseca, esta lembrança de minha homenagem ao nosso grande poeta, com a presença de descendentes seus. Da afilhada Maria Feijó. Rio 1973” (Sem lançamento).

8 – Canto Que Veio – 1974. “Para meu querido ‘padrinho’, toda admiração, cada vez maior, de sua sempre ‘afilhada’ Maria Feijó – 1974”.

9 – Quando um Lírio Desabrochava, Crônicas- 1977. Sem lançamento e sem dedicatória.

10 – Pelos Caminhos da Vida. “Para meu querido padrinho J.J. da Fonseca, este meu pimpolho irmão de seu afilhado poeta, com toda a simpatia e carinho, e com o privilégio de ter sido o primeiro a ler os originais. Maria Feijó. 21.03.79”. Romance ou memórias romanceadas? Um livro de memórias no qual algumas pessoas, inclusive a autora, se escondem em nomes diferentes. Maria Feijó foi, além de grande poeta, grande cronista, com muito jeito e fertilidade para a arte da prosa. São 800 páginas de memórias, muitas lembranças bonitas e fantasia. Uma fortuna que deixa aos pesquisadores desses tempos em que se vivia sonho e felicidades como se fossem coisas iguais. Li o original, li o texto impresso com algumas anotações.

11- Meu Chão Azul – 1980. “Sr.Fonseca, grande e inspirado poeta e meu padrinho muito querido, este meu chão, sendo mais um filho poético da amiga

Maria Feijó. Salvador, 18.0.80”.

12 – Vitrais de Sonhos – 1985. “Ao grande poeta e amigo J.J.Fonseca este meu ‘Vitrais’, irmão de seu afilhadinho ‘Bahia de Todos os Meus Sonhos’. Da afilhada amiga Maria Feijó. 20=10.85”.

13 – O Pensionato Paraíso das Moças – crônicas – 1988. “Sr. Fonseca, meu querido padrinho, está vendo, o senhor é muito jovem, mas estimulou o ‘nosso’ ‘Bahia de Todos os Meus Sonhos’, lembra-se? Um abraço da Maria Feijó. 26-8-988”.

14 – Sinfonia de um Novo Amanhecer – 1990. “Sr. Fonseca, meu querido padrinho, poeta de escol: Eis aí os ‘nossos’ 25 anos, lembra-se? Que peregrinação, hein, mas estou feliz, graças a Deus e ao seu incentivo!... Pronuncie-s a respeito... Da amiga Maria Feijó. Rio, 28-05/91.

15 – Beduíno dos Sonhos – 1992. “Ao querido intelectual e meu ‘padrinho’, Sr. Fonseca, todo o meu carinho, nesse ‘Beduíno’ e que os oásis da vida estejam no teu caminho e de D. Alice. Maria Feijó. Salvador, 16/12/92”.

16 – Discurso de Posse na Academia de Letras do Rio de Janeiro – 1995. Na ABI – no dia 25 de novembro de 1993, por ocasião de sua posse na Cadeira nº 12 – VINÍCUIS DE MORAIS. (sem autógrafo).

17 – A Canção Azul do Tempo - 1998. “Para o meu querido padrinho, o grande poeta e amigo, Sr. Fonseca, o agradecimento eterno da alma que muito o quer e admira, Maria Feijó. Salvador, 9/12´98”.

18 – De Mãos Dadas (Maria Feijó e Marcos C. Loures) – 1990. “Sr. Fonseca, amigo. Vamos andar ‘sempre de mãos dadas’, com a Arte que faremos um grande bem a esta humanidade alienada e desenfreada de agora. Maria Feijó. 25-05-91”. Sendo um livro a quatro mãos, preferi deixa-lo para o fim da relação.

18.06.2006.