Asas

Queria estar em todos os lugares e com todo mundo ao mesmo tempo.

Tinha asas de Mercúrio nos pés, mas essas não a tornava um ser alado.

Eram apenas o resultado de uma vontade latente de liberdade contida em sua carne que de tão aguda se fez brotar na forma das tais.

Ela queria estar comigo, mas como fazer pra conciliar com a ânsia de liberdade?

Entorpecida, um dia despertou de uma sesta e decidiu que tinha asas maiores e partiu chacoalhando as roupas do varal com o mover de suas potentes asas dorsais.

As asinhas dos pés, agora são seu norte e seus anseios a guiam para o encontro de todas as coisas que quer abraçar.

Sim, ela ainda me visita de quando em quando.

Eu, por ama-la tanto, a recebo com festa todas as vezes que pousa em meu quintal fazendo alarde e me resigno com a dádiva de saber que dentre tantos nessa imensidão de gente sou o escolhido como o que detém o posto de “porto seguro” e onde se aconchega e pra quem conta suas peripécias e desilusões que vem tatuadas em sua pele queimada de aventuras.

Quando parte, eu sonho com ela e suas histórias e me alegro, pois sei que está indo apenas fazer o que na verdade mais busca, que é encontrar motivos pra voltar.