Morar sozinha é pra Mulher.

Sozinha? De novo? E o que aconteceu dessa vez? Quem foi o culpado? O que vai fazer? Caramba! Choveram perguntas e eu não tinha nenhum guadachuva para me abrigar. É, mais uma vez sozinha e daí? Qual é o problema? Não aconteceu nada, por que teria que acontecer? Quem disse que alguém tem ser culpado? Por que tenho que fazer alguma coisa? Devolvi as perguntas, literalmente, para minha mãe e já que nenhuma das duas tinha as respostas, saí deixando com ela minha nova e repetitiva realidade. Estava só outra vez, mais um casamento desfeito e com ele também desfeitos os sonhos de ceias de natal em minha casa, aniversário de crianças, férias combinadas, almoços em família aos domingos e todas essas coisas que só sabe o valor que tem quem as não possui.

Na verdade já me acostumara a essas construções e desconstruções, mas dessa vez, decidi que faria algo diferente, pelo menos depois de descasar, resolvi que não voltaria a morar com minha família, resolvi morar sozinha. Foi aí que minha saga individual começou. Parece fácil, mas morar sozinha para uma mulher ainda requer coragem e muita habilidade. Nós, mulheres não fomos criadas para enfrentar determinados desafios, pelo menos as mulheres de minha geração, fomos concebidas com o fim sublime de sermos esposas e mães, assegurar a permanência da sensibilidade em nossos lares, fazer com que nossos companheiros pareçam fortes e seguros, mesmo sabendo que somos o esteio que lhes garante a segurança. Fato é que fui criada para ser esposa e mãe, mas, por mais que eu quisesse, e acreditem, eu quis profundamente que isso acontecesse, fui parar em um apartamento sozinha, depois de várias tentativas frustradas de seguir o meus desígnios.

A rotina de uma mulher que mora sozinha, mesmo que digam o contrário, não é nada fácil e nem estou falando de solidão ou algo assim. Não, falo de rotina, de cotidiano, de coisas práticas que povoam nosso dia a dia. Querem exemplos? Pois bem, que tal começarmos pelo carro. Entender de motor, de seguro e decifrar o painel com aquelas luzinhas todas, não, isso não é coisa pra mulher, claro que existem exceções, mas duvido que a maioria das mulheres não prefiram aos brilhinhos de seu estojo de maquilagem. E se estourar o pneu do carro em uma rua deserta? Até que a seguradora seja acionada e eu seja socorrida, nem quero pensar no que pode acontecer, sem falar nos banhos que o carro tem que tomar, que saudade do tempo em que só precisa levar meu basse pra tomar banho, levar o carro pra oficina então, é o fim, quando penso que muitas vezes preciso trocar meu cabeleireiro pelo mecânico...

É melhor pararmos com esse assunto de carro, caso contrário, vou acabar vendendo o meu e as coisas vão ficar ainda piores. Que tal agora falarmos um pouco sobre casa, às vezes trocar uma simples lâmpada pode ser bem complicado. Outro dia tive que ser malabarista, felizmente, mas naquela ocasião infelizmente, os homens tendem a ser mais altos, e alto também é o teto do meu apartamento. Podem imaginar alguém de altura mediana no meio da sala em cima de uma banqueta querendo trocar uma lâmpada, e o que é pior, sem resultados positivos, tentei de tudo, apertei, afrouxei a lâmpada no bocal e nada, escuridão plena, isso depois de um dia exaustivo de trabalho e de ter passado no supermercado porque não tinha ninguém pra eu ligar e dizer: amor será que você pode passar no supermercado e comprar o jantar? Pois é, podem imaginar que nesse momento eu estava transpirando os instintos masculinos, totalmente impaciente. Resultado: não li na sala por uma semana, quando tive tempo de chamar um eletricista, que resolveu o meu dilema pedindo que eu comprasse outra lâmpada. E eu me sentindo a mais feminina de todas mulheres, pude ler em seus pensamentos, mas onde está o marido dessa mulher , será que ele não percebeu que essa lâmpada não serve pra esse bocal. Agradeci-o, paguei-o e joguei fora a lâmpada.

Mas isso não é nada, sabem qual é a pior coisa para uma mulher que mora sozinha? Encaixar o garrafão de água mineral no filtro. Faço academia pelo menos quatro vezes por semana, lá carrego bem mais que 20Kg, então me respondam se souberem, por que cargas d’água não consigo enfiar meu garrafão no filtro? Outro dia falei a um amigo, desses que agente encontra em espaços virtuais de vez em quando, que precisava desligar o computador porque tinha algumas coisas pra fazer e, inocentemente, disse-lhe que ia tentar colocar o garrafão de água no filtro, sabem o que ele me respondeu? Que se estivesse em minha casa enfiaria o garrafão pra mim e completou “adoro enfiar o garrafão”. Acho que nesse momento eu compreendi que essa história de enfiar garrafão é coisa de homem mesmo, a nossa história é só beber a água. Foi por isso que eu recusei, algum tempo depois, quando meu ex-marido ofereceu-se para me ensinar algumas técnicas para que eu pudesse enfiar o garrafão sem problemas. Não aceitei, é claro, já pensou se de repente eu aprendo a enfiar o garrafão e o que é pior, se eu gosto? Melhor não arriscar.

Mas sabem de uma coisa, expondo aqui pra vocês alguns dos meu desafios de moradora solitária, alguns porque não enumerei nem a metade deles, vocês não aguentariam tantas histórias, mas como ia dizendo, falando um pouco sobre esses percalços que perseguem, provavelmente, todas as mulheres que moram sós, concluí que morar sozinha é coisa de mulher com M maiúsculo.