CARRÕES

Dizem que o brasileiro é apaixonado por carros. Eu acho que a maioria é muito mais por status. Falo por mim também. Já houve uma época que o meu sonho de consumo era ter um carro. Um carrão, diga-se. Diante de minhas 4P (explico essa sigla): Permanentes Parcas Possibilidades Pecuniárias, o sonho vivia sendo rebaixado para um carro qualquer, de preferência financiado. Então adquiri primeiramente uma brasília azul, modelo geladeira - segundo meus desafetos e outros gozadores. No entanto, o devaneio de ascensão automobilística sobreviveu por muitos anos. Dormia por cansaço de tanto esperar e eu costumava acordá-lo com um presente, sempre que no trabalho houvesse uma promoção ou eu dava um jeito de fazer outro financiamento. Mudava para um melhorzinho, mais potente.

Nunca cheguei a ter o carrão e o sonho acabou se diluindo até extinguir-se por completo. Amadureci e os sonhos também. Eu ainda não caí, mas o sonho do carrão caiu de maduro e foi substituído por outras viagens. Hoje, preciso de uma condução que me leve aonde eu precisar com um certo conforto e sem dores de cabeça e na coluna. Aliás, do jeito que anda o trânsito nas cidades, o caos ajudou a dizer não ao meu sonho.

Chego mesmo a achar estranha essa fissura que os homens, principalmente, tem pelos carros, os detalhes que gostam de destacar, buzinas com sons estranhos, faróis de cegar outros motoristas, adesivos com as frases mais esquisitas e o inseparável som automotivo. Tem uns jovens que compram um aparelho de som e o equipam com um carro. Você, às vezes sai às ruas e vê uma verdadeira parafernália de som a milhões de decibéis sobre rodas.

Hoje, andando pelas ruas tenho uma lembrança saudosa de um desenho animado que assistia há muito tempo (Os Jetsons, onde as pessoas andavam em carros que flutuavam pelos céus, uma visão futurista que está se tornando necessária). Por aqui, fizeram metrô em poucos lugares e debaixo da terra já não está mais sendo suficiente para caber tanta gente, então acho que a próxima solução vai ser no ar.

O Paulo Patrício, um amigo mais realista do que eu - acho que já estava meio de saco cheio de me ouvir falar que eu gostaria de ter um carro assim, um carro assado, todos custando uma fortuna impensável me soltou esta, certa vez:

- Zé, no dia em que você conseguir adquirir um carrão desses, o homem já vai estar andando por ai de nave espacial.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 24/11/2010
Código do texto: T2633573
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