Males contrutivos e Bem destrutivo

Bens destrutivos e mal construtivo

A Bíblia Sagrada diz que o mal não é o que entra pela boca, mas sim o que sai... Jesus censurando os escribas e farises, segundo Mateus (12,35-37), ao advertir que a boca fala o que está guardado no coração.

Refletindo a respeito, cheguei a algumas indagações e conclusões:

1. Cachaça faz mal? Não.

2. Cigarro faz mal? Não.

3. Palavra faz mal? Sim.

Mas, então, porque o mundo combate o fumo e o álcool, considerados dois dos vícios mais perniciosos da humanidade, e não proíbe a palavra? Aliás, a censura à palavra é um crime contra a Liberdade e a Democracia.

O álcool e a nicotina matam, e sobre eles temos exaustivas estatísticas. Eu gostaria, no entanto, de ver as estatísticas sobre as mortes e tragédias causadas pela intriga, que é uma arma de imenso poder destrutivo disparada pela língua.

Tanto faz se a intriga sai da boca de uma pessoa invejosa ou se é empregada como arma de conquista do poder de qualquer natureza, como acontece com freqüência na política e na vida doméstica: Ela tem um efeito devastador e chega a provocar conflitos mundiais.

A expressão “emprenhar-se pelo ouvido” é uma referência a essa gravidez demoníaca do alvo do intrigante, e as suas conseqüências todo mundo conhece. Shakespeare, em “Otelo”, explora bem a intriga usada como produto da inveja.

Tem ocorrido, ultimamente, certo culto ao visual, em detrimento da palavra. Afirma-se que uma imagem vale por mil palavras, mas isso é uma grande bobagem, como adverte o jornalista e escritor Paulo Francis, em seu “Diário da Corte”: “Tente afirmar isso sem usar a palavra...”

É uma grande sacada do Francis, pois eu nunca tinha pensado nisso, mesmo tendo atuado em jornal, rádio e televisão. Eis porque há uma distinção, na comunicação, entre a televisão, o rádio e o jornal, em termos de efeito sobre o espectador, ouvinte e leitor.

A televisão é um meio frio, que atua no inconsciente humano; o rádio é um meio quente, que atua no consciente, e o jornal é o veículo que enseja ao leitor a reflexão sobre a realidade que o cerca,estimulando sua consciência crítica, o que também é proporcionado pelos livros em escala mais completa.

A própria Bíblia é feita de palavras, e, num exemplo mais hodierno, a concepção da Escola de Frankfurt, a respeito da “indústria cultural”, mostra que, longe de ser proibida, a palavra é, na verdade, o produto mais cultivado da civilização (a própria fonte do nascimento desta, na Caldéia) e que alimenta o ser humano.

Por conseguinte, o mal é mesmo o que sai da boca, mas ele constrói, e o que entra na boca é o bem, que destrói. Como a vida é breve, não sei se terei tempo para encontrar solução para essa contradição!

Feichas Martins
Enviado por Feichas Martins em 23/11/2010
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