UMA LUZ SOBE AO INFINITO

Uma segunda-feira, 22 de novembro, 2010. Cedo, como de costume, já escuto uma emissora de rádio (AM). Carinhosamente – não é ironizando – chamo as rádios AMs de “pé-duro”. Para mim, as melhores, que trazem a notícia em cima das buchas. FM é só para música e músicas só ouço as que eu desejo ouvir, não as que me sejam impostas.

Pois foi em cima das buchas, logo ao acordar, na segunda, que ouvi a infausta notícia da morte de Moacir Costa Lopes*, escritor cearense, de Quixadá, a “terra da Pedra da Galinha Choca”. Um câncer o matou, infelizmente. Ele ficou órfão de pai logo no segundo ano de vida. Onze anos depois, perde a mãe para a tuberculose. E, com os irmãos menores, sai por seca e meca para vir morar em companhia de um tio, na cidade de Baturité.

Menino que lia, lia desesperadamente, sobretudo literatura de cordel. Mas também lia tudo o que lhe caísse às mãos. Virara, portanto, ainda muito jovem, um leitor compulsivo. Em Fortaleza, entra para a Escola de Aprendizes Marinheiros. Na Marinha, sem formação superior, viaja pelo mundo afora. De tanto que o mar o fascinava, conheceu todos os cais e, pelo menos, teve uma Maria em todos os portos.

Não o conheci em carne e osso, contudo me deu na telha a ideia de relembrar uma luz que sobe ao infinito. E a luz de Moacir C. Lopes – assim é que assinava os livros dele – chegou-me quando eu trabalhava no extinto Colégio Oliveira Paiva, e por meio do administrador, poeta e escritor José Maria de Barros Pinho, para cujo colégio do qual ele era proprietário eu dava aulas como peão-professor.

O poeta Barros Pinho entrou no “pacote” do então já meio consagrado escritor, no Rio de Janeiro, com editora montada e tudo, o quixadaense Moacir C. Lopes. Embora mexesse com Literatura, eu nunca ouvira antes esse nome. O camarada, além de escritor, era também um empreendedor nato. Inventara de inventar um “pacote” (eu que o rotulo de “pacote”), que, no geral, consistia no seguinte: vários escribas do Brasil inteiro se comprometiam de arrebanhar pessoas que comprassem os livros da Editora Cátedra, justo a casa publicadora do Moacir.

Um consorciado tal (escritor), nacionalmente, recebia os livros e os repassava aos seus companheiros que haviam aderido à coisa. Bom demais para ambas as partes. O escritor que aderira ao plano também ficava credenciado a publicar as próprias obras na editora Cátedra, fruto de uma cabeça boa e empreendedora.

Entrei nesse “parangolé”, que achei muito bom e criativo, pois, na escola mesmo, eu recebia os meus santos livrinhos de cada final de semana. E paguei e adquiri muitos desses volumes, lá da Editora Cátedra. Ao ouvir a notícia chata da morte do meu benfeitor, a quem passei a admirar e ler-lhe os livros, além dos livros de outros escribas, meti dos pés, fui às estantes da biblioteca ver quantos e quais dos livros do consórcio eu ainda possuía.

Do Moacir, que eu desse com eles, apenas dois: “Maria de cada porto”, romance em terceira edição, 1970, editado em convênio com o Instituto Nacional do Livro, e “Cais, Saudade em Pedra”, também romance, em segunda edição, conveniado com o mesmo Instituto e o MEC. Mas o falecido escritor deixou uma obra alentada, que transcrevemos embaixo. Não o encontrei, mas penso que possuí “A ostra e o vento’, romance considerado como a obra-prima, levado às telas como peça de cinema.

Outros livros do “pacote” da Editora Cátedra, de propriedade do Moacir C. Lopes – só os que me sobraram, pois andei ofertando alguns –, são estes que passo a enumerar: “Redondel”, romance, de Jayme Torban; “O filho do cérebro”, contos, de Antônio Moreno; “A dimensão das pedras”, contos, de Rejane Machado Freitas Castro; “O caminho dos ventos”, romance, de Eduarda Zandrón, e “Fronteiras imaginárias”, crítica, de Fábio Lucas. Lembro que havia outros, de poesia; passei-os adiante ou não os encontrei, meio à bagunça das estantes.

Não é pequena a bagagem literária que Moacir Costa Lopes nos deixa como legado. Agora, que ele se foi, uma luz sobe ao infinito. E o acervo de “pacotes”, feito em consonância com inúmeros escritores de todo o País, foi imenso e uma coisa admirável. Árdua missão de difundir o livro e a cultura em messe nem sempre fecunda.

Fort., 22/11/2010.

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(*) Moacir Costa Lopes (Quixadá, CE, 11 de junho de 1927 - Rio de Janeiro, RJ, 21 de novembro de 2010), escritor brasileiro.

Obras publicadas

• 1959 - Maria de cada porto

• 1961 - Chão de mínimos amantes

• 1963 - Cais, saudade em pedra

• 1964 - A ostra e o vento

• 1965 - O navio morto, in Os dez mandamentos

• 1968 - Belona, latitude noite

• 1972 - Por aqui não passaram rebanhos

• 1974 - As viagens de Poti, o marujinho

• 1976 - A pedra das sete músicas

• 1978 - A Situação do Escritor e do Livro no Brasil

• 1982 - O passageiro da Nau Catarineta

• 1982 - Calígula, o imperador devasso

• 1994 - A dança do tarô

• 1995 - O navio morto e outras tentações do mar.

• 2000 - O almirante negro (Revolta da Chibata - A vingança)

• 2001 - Guia prático de criação literária

• 2003 - Onde repousam os náufragos

• 2006 - As fêmeas da Ilha da Trindade

• 2007 - A ressurreição de Antônio Conselheiro e a de seus 12 apóstolos

[Fonte: Wikipédia, online]

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 22/11/2010
Reeditado em 22/11/2010
Código do texto: T2629987
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