"O RIO SAKA , O POBRE SAKEIA E O GOVERNO SAKANEIA"

Li a frase quando estava dentro do ônibus , a caminho do centro da cidade . Nos primeiros segundos , tive que prender o riso porque achei muita graça naquelas palavras . Depois , forçando um pouco o cérebro, percebi que tudo o que elas não continham era graça .

A violência urbana é filha da violência social que por sua vez tem , enquanto mãe , a violência inter-racial . Então , podemos entender que esta última pessoa nos fez a gentileza de gerar a primeira , e sem o menor drama de consciência . O que estou querendo dizer com isto,afinal? Que as tentativas para analisar o autor das palavras que foram escritas naquele muro sujo - e desconfio, aquilo só poderia ter acontecido a noite onde todos os gatos são pardos - , seria preciso conhecer , de muito perto , o sujeito . E lá se vai um outro enigma ... Não há jeito de resolver a questão , mesmo .

Daí , mergulho no conhecimento do ambiente social e por tabela - vejam só ! - , sentadinha no banco do ônibus , tentando driblar o calor com um leque de palitos bordado . Acredito , sinceramente , não existir no mundo coisa mais ridícula e não me refiro ao leque . Bom , começo imaginando que o “senhor abusado” tenha dado um bico na escola , tal a confusão fonemática apresentada , descaradamente . O infeliz não sabe escrever ! Vou mais fundo . Imagino que a sua infância tenha sido triste , moça e rapaz morando juntos por conta de uma gravidez não esperada e nem desejada , a mãe aos 15 anos . O pai , outro que também dera um bico nas bancas escolares , certamente para ajudar nas despesas já que o avô bebia mais do que motor de Dodge Dart , acabou fulo da vida com o descuido da namoradinha mas para não dar bandeira , fez que nem gente grande e "peitou a ingresia" . Claro , só podia ter se dado mal na vida . Aí o menino nasce e cresce , mas só aparece para tudo o que há de ruim , gradativamente : furto , roubo , álcool , entorpecentes , tráfico. E um belo dia se olha no pedaço de espelho quebrado , pendurado na parede do barraco onde ele já dorme com a sua namorada , tão criança quanto ele . O que pode ver ? Outro Zé Ninguém , faltando um tantinho de nada pra ver a cara do rebento , devidamente instalado. Então , ele desce o morro a caminho do asfalto , bem no olho da noite . Nas mãos , um spray vagabundo . Escolhe o muro não pela melhor superfície para dar ao mundo a papa fina da sua arte mas pela certeza de que “os bacana”, enquanto se dirigem ao trabalho, vão ler o que ele chama de ... suas idéias . É , eu avisei . Não tem a menor graça.

Seria o caso de licença poética ? Duvido . Estou apostando mais no escrever como se pensa , no exato minuto em que se esta pensado . Eu sei , eu sei . Este negócio é muito esquisito . Mas existe . E agora , sem tabelinha , o papo vai ser à vera . Por que raios as pessoas não largam de uma vez da hipocrisia social , política e econômica ? Por que é disto que trata a frase , meus senhores e minhas senhoras . Magistralmente, embutido . E que ninguém me venha dizer que foi o calor , não . Sou brasileira e carioca , acostumada aos maus bofes do nosso Astro Rei apesar de não ter na pele o carimbo notório da etnia negra , fato que em muito eu lamento . Esta aí , uma boa pedida , conhecer este cara . Talvez eu acabe colocando a minha vida em perigo , a vida da minha família , o meu trabalho , sei lá mais o quê . O fato é que a palavra talvez entrou na jogada e isto poderia me salvar porque eu confio . Em Deus , no homem , no amanhã do planeta , na vida após a morte e na letra K , a maior transformação da minha semana .

Josí Viana
Enviado por Josí Viana em 19/11/2010
Reeditado em 02/01/2014
Código do texto: T2624747
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