NOS TEMPOS DE COLÉGIO
NOS TEMPOS DE COLÉGIO
Alguns seres de nosso relacionamento que em razão de protagonizarem conosco alguns acontecimentos tornam-se inesquecíveis.
Jaime é um destes.Colega de classe nos idos dos anos 60 no Colégio São Vicente de Paulo onde coincidentemente fizemos parte da mesma classe durante os quatro anos do curso ginasial.
Bons tempos aquêles!
Apesar da disciplina rígida imposta pelos padres daquele educandário e a liberdade atribuída aos professores de “descer o porrete”,literalmente,sempre que a ocasião assim o exigisse.
Aula de matemática.
Terrível e indigesta.
Sempre fui uma negação na matéria,ainda que um esforço quase sobre humano ,vez e outra,ajudasse-me à dar uma alavancada.
Álgebra e toda aquela parafernália do segundo ano do curso ginasial.
Dona Efigênia,a mestra,com todo o meu respeito caso ainda esteja entre nós e casualmente lhe ocorra de ler –me nestas mal traçadas,mas era “tenebrosa”.
Costumeiramente de cara amarrada,um olhar ligeiramente estrábico e uma voz autoritária.Adentrava à sala sempre com uma pilha de livros e cadernos nas mãos e fechava a porta com o pé provocando um ruído seco,aterrorisante.
Teria atributos suficientes para mostrar-se bela na eventualidade de auto permitir-se abrir um sorriso,ainda que “de leve”.
Havia uma disputa velada entre “internos” e “externos” nas salas de aula.Uma tola competição,uma queda de braço,que naturalmente nunca levava à nada.
Uma tarde qualquer de um mês que não me recordo.(velhice!)
Jaime,sentado na carteira à minha frente.
Dona Efigênia,destilando o seu mau humor entre as carteiras.
Um interno,de cujo nome o peso da idade não permite - me lembrar,leva uns tapas de Efigênia.O caderno está em péssimas condições,as tarefas não foram feitas,há uma certa “revistinha” entre as folhas quadriculadas no caderninho do “interno”.
Efigênia aproveita.Dá-lhe uma sova,acompanhada de alguns bem temperados impropérios.
A classe silencia-se.
Jaime,vira-se para a minha carteira e cochicha todo satisfeito.
_Muuuiiito Bom!!!...Viste a cara do “internozinho?”
Emoldura-se em sua face um sorriso quase diabólico.Não satisfeito,então,me propõe:
-Vamos aplaudi-la?!
Topei na hora.
Levantamos,ambos,e fizemos ecoar pela sala a sonoridade da nossa “média” para com a agressora.
Esta,que retornava à sua mesa,volta-se para a turma e pasmem! Com um ligeiro sorrisinho, indaga:
-Quem me aplaudiu?
É claro que Jaime e eu,fizemos até uma certa pose quando pusémo-nos em pé ao redor das carteiras para demonstrar nossa aprovação e solidariedade diante da nobreza (?) do gesto.
Minha gente! Apanhamos feito cachorro de pobre. Foi tanto tabefe,tanto puxão de orelha,de cabelo,temperados à fortes impropérios e olhares cínicos do restante da turma.
Tarefa concluída e a figura retorna lentamente à sua mesa.
Isso ocorreu em 1965 e foi algo ( como dizem os jovens da atualidade )”tipo assim” :Sinistro!
Jaime,hoje um recatado e bem aposentado do governo federeal,desfilava com ar meio solitário por uma movimentada avenida da cidade.Eu,outro recatado e mal aposentado,de “saco cheio”,aguardava numa fila de um caixa automático para fazer algumas operações bancárias.
Pela janela vislumbrei o meu colega de classe e num instante cheguei a sentir o peso do braço de Efigênia.