O corpo é uma roupa que a alma usa; uma roupa de gala certamente; confeccionada por um estilista único, e feita de um tecido original, ímpar e inigualável. É uma obra perfeita em todos os sentidos. Sua textura é macia, confortável e confortante, possui cavidades, reentrâncias, côncavos e convexos, pontos e arremates tudo bem localizado, fechando aberturas e abrindo outras; criando curvas, retas e diagonais.
Foi costurada com uma linha tênue que, passando por inúmeras e sensíveis engrenagens, faz com que outra jamais possa ser feita por ninguém a não ser por si mesma, quando unida à outra roupa em perfeita sintonia e sinfonia.
A roupa possui alguns valiosos bolsos onde são guardados especiais tesouros que fazem com que ela esteja sempre bela, colorida, leve, confiante e forte.
Esses tesouros podem se estragar ou por negligência ou por longa duração. Chega o dia em que o tecido se esgarça, os pontos tornam-se folgados, a cor do tecido meio desbotada; as bainhas se desmancham, as engrenagens não suportam as linhas e os bolsos chegam a furar. Aí é o fim da roupa, ou seja, do corpo.
O dono de cada roupa pode conversar com ela antes disto, prestar atenção ao que ela deseja; no que está dando certo ou o que não está bem seguro; o que precisa de um aperto aqui ou uma flexibilidade ali.
Uma leve passadinha à ferro ou mesmo um contato com o sol, de tempo controlado e na hora certa dá excelentes resultados.
Pode haver necessidade de levá-la até um local de exuberante natureza, onde Gaia parece ter exagerado no esplendor.
Quando algo anda errado na roupa, é porque o seu “sustentador” não está bem. É necessário, então, uma “conversa” íntima entre a roupa e a alma, Como?
Cada um tem seu jeito: muitos oram, outros meditam, outros voam de asa delta, escalam montanhas, alguns cantam, tocam tambor, dançam, lêem, tomam um banho de cachoeira ou mergulham no mar; muitos visitam roupas velhas e crianças doentes.
Há também os que fazem uma viagem para um lugar bem longe ou vão para um espaço bem perto: dentro de si mesmos. E aí um colóquio de amor entre o corpo e a alma pode trazer à tona a causa dos desgastes da roupa.
Neste diálogo não pode haver dissimulação, mentiras, negação de responsabilidade, dar um tempo, fuga, nem imputação de culpas. Basta que haja amor, compreensão e um pacto: cuide de mim e eu cuido de você.
Não é fácil, mas também não é difícil, desde que haja três ingredientes especiais: silêncio completo; respiração bem executada e perfeita atenção às respostas que virão. O complemento indispensável é a vontade de ficar bem.