A PRIMEIRA PRESIDENTA A GENTE NÃO ESQUECERÁ.
Cai o pano. O grande teatro das eleições terminou. Vencidos e vencedores apagam as luzes da ribalta e, cada um a sua maneira, retoma a vida. Aos vitoriosos, compete a lucidez de conduzir um país tropical composto por diferentes modos de vida. Aos derrotados, competirá a tarefa de fazer oposição limpa, lúcida, em nome do Brasil. À Presidenta, um país a seus pés conclama para um governo sem cores partidárias. Torcemos para que a primeira mulher a nos governar o faça sem se desgarrar das nossas quatro cores. E que não governe para as mulheres, pelo fato de ser mulher. Grande parte dos homens que nos governaram, ignoraram a mulher no contexto mais geral e político. Essa talvez seja a grande contradição do humano: os homens quando governam mesmo adorando as mulheres como dizem, fazem pouco por elas. Talvez por gostarem delas no lugar tradicional entre a cama e a mesa, ou por simplesmente defenderem a idéia ultrapassada de que política é coisa de homem. As mulheres, considerando as poucas que ocuparam posições exponenciais na história, sempre foram austeras. Algumas até demais, como se estivessem imitando alguns homens, talvez por orientação de marqueteiros. Uma parte considerável delas tomou decisões fortes e desmistificadoras da mulher incapaz de ser “dura”, incapaz de tomar decisões sem a chancela de um homem por perto – a Princesa Isabel que não me deixe mentir. Vejo com tranqüilidade a nossa Presidenta. Parece-me que ela não gosta de meias palavras. Pra quem não gosta de meias palavras, com certeza não tomará meias-medidas como alguns políticos que vivem “acendendo uma vela pra Deus e oito pro Diabo”. Dilma (estabeleci já minha intimidade) terá algumas OUTRAS sérias dificuldades, como se não bastassem aquelas outras que há muito esperam solução. Talvez ela tenha que mostrar para a “homenzada” (contrário de mulherada) que política não deve ser feita com sexo, mas com nexo e muita competência. Enfrentar um congresso nacional tão cheio de vícios e de malandragem não vai ser fácil. Mas se Dilma não se distanciar do povo, saberá fazer a omelete quebrando os ovos que forem necessários. Resistência às pressões não lhe faltarão, haja vista o que ela passou nas prisões da ditadura. Quando presa, não tergiversou, não entregou os companheiros e com este gesto, calou a boca de parlamentares que a inquiriram numa das CPIs da vida.
Dilma é uma esperança. Não pensem que será uma Lula de saia. Nem pensem que será uma Presidenta passional. Isto ela demonstrou na campanha, pois soube ser doce sem ser melosa, soube ser discreta, sem ser “papagaio de pirata”, soube ser firme quando calou a boca de uma torcida organizada num dos debates pela TV. Soube ser católica sem ser caótica, ser tolerante sem deixar de se firme. Com certeza ela tem defeitos como todos nós, senão não teria como nos representar. Os pecados dela, espero que Deus perdoe. Porque o pecado da fome, da discriminação, da violência, da ignorância, etc., ela terá que enfrentar e fazer milagres, senão a gente não lhe perdoará.
Portanto, esperamos que nossa Dilma faça um governo centrado nas pessoas. E pessoas não têm sexo, são como anjos que o coletivo pensante não atrela a características individuais. Torçamos para que ela não governe para os cidadãos que votaram nela e os que não votaram. Eleita, será a partir de primeiro de janeiro de 2012, a Presidenta de todos os brasileiros. Os machões certamente ficarão descontentes. Só terão duas alternativas: a primeira é reclamar ao bispo. Se o bispo não estiver, reclama ao MALA – aquele que se diz pastor Silas; a segunda, é trepar num pé de coco e tirar coco e furar seus olhinhos até que precisem usar óculos. Sugiro uma terceira alternativa: mudem-se pra outro país! Levem consigo a tiracolo pra bem longe daqui, aqueles poucos fedelhos paulistas que querem matar os nordestinos, culpando-os pela vitória de Dilma.
Já é meia noite e meia. Preciso dormir. Bom Dilma pra todos.